terça-feira, 31 de janeiro de 2023

LEMBRANÇAS... SAUDOSAS

 Por Albano Martins Jr. 

Hoje é 31 de janeiro, hoje fecha a Livraria da Fox, um dos longevos casos de amor que Belém viveu com uma livraria. Outro deles, outro caso de amor aos livros, Belém viveu por décadas com a Livraria Martins, negócio que permitiu aos meus antepassados imigrar de Portugal ao Brasil para começar a vida ali pela Travessa Campos Sales.

E porque hoje fecha a Livraria da Fox, depois de 36 anos, tive vontade de tomar um sorvete da Gelar, de beber um caldo de cana da Moenda, de almoçar no Lá em Casa, jantar no Augustu’s e quem sabe emendar até o Maracaibo.

E porque hoje fecha a Livraria da Fox, senti vontade de jogar boliche no Chopp House, comer uma pizza no rodízio do Boss, ou quem sabe degustar um Well’s Well’s com Vaca Malhada na famosa lanchonete do Jumbo.

E já que hoje fecha a Livraria da Fox, pensei numa noitada mais ousada, iniciando no Gemini ou no Mistura Fina para terminar no Lapinha, a ouvir o famoso bordão em inglês - “Ladies and Gentleman, good evening…” - com o qual eram anunciados os shows de striptease de gatas exclusivas, sob a produção cheia de brilhos do finado Rudy Star.

E porque hoje fecha a Livraria da Fox, cogitei atravessar de balsa o Furo das Marinhas para ir ao melhor Mosqueiro de todos os tempos, aquele de antes da ponte, onde era permitido dormir de janelas abertas e passear sem medo do Ariramba ao Farol, devorando um saco de pastéis do Oliveira.

E porque hoje fecha a Livraria da Fox, talvez fosse interessante comprar um livro na Jinkings, outro na Ponto & Vírgula, comprar uns discos na Gramophone ou na 33&1/4, ou quem sabe uns sapatos na Leão de Ouro, na Sapataria Batista Campos ou na Carrapatoso.

Com pisantes novos, caberia saracotear no Gato & Sapato, na Signus ou no JB254, quiçá no Quiosque do Mascate, apreciando o pessoal encostar o carro na Doca para ver e ser visto, como diria um colunista social de que me lembrei exatamente porque hoje fecha a Livraria da Fox.

Também por isso me deu vontade de ver um filme no Olímpia ou no Palácio, e depois ir andando até a primeira Cantina Italiana, na Aristides Lobo. De lá, em homenagem ao fechamento da Livraria da Fox, eu pegaria um táxi sem o assento do passageiro só pra sentar no banco de trás, ver o motorista puxar a porta por uma corda amarrada ao morcego e testemunhar o poltergeist da manete do câmbio, a iluminar de vermelho um siri plastificado cada vez que o freio era acionado.

Como a Fox vai fechar, pediria ao chauffeur para me levar ao Iate Clube, ou ao trapiche do Novotel, corrida longa, a me custar uns tantos cruzeiros, cruzados ou cruzeiros novos.

Hoje fecha a Fox. Embriaguemo-nos no Garrafão ou no Corujão, animados pelo som do Guilherme Coutinho, da Banda Sayonara, da Orquestra Orlando Pereira ou quem sabe do Walter Bandeira a desfilar num trio elétrico do Bento Maravilha, sob o estourar de fogos do Bechara Mattar.

Se nos excedermos podemos passar na Drugstore Beirão para comprar Anador, Melhoral ou Vitasay.

Hoje fecha a Fox, hoje mais alguma coisa em Belém deixa de existir para virar lembrança, para virar história, para virar saudade. Hoje fecha a Fox, e por causa disso me lembrei de um versinho do Drummond:

“Por muito tempo achei que a ausência é falta.

E lastimava, ignorante, a falta.

Hoje não a lastimo.

Não há falta na ausência.

A ausência é um estar em mim.

E sinto-a, branca, tão pegada,

aconchegada nos meus braços,

que rio e danço e invento exclamações alegres,

porque a ausência, essa ausência assimilada,

ninguém a rouba mais de mim!”


OBRIGADA, ALBANO.

 ACHEI QUE ERA JUSTO QUE O POVO DA CIDADE VELHA SOUBESSE QUE O QUE SENTIMOS, HOJE, É CONDIVIDO COM QUEM LEMBRA DE BELÉM... DE ANTIGAMENTE.


domingo, 29 de janeiro de 2023

NOSSA PERPLEXIDADE

 Quem mora no bairro do Reduto, do Umarizal, ou outro qualquer de Belém, não pode saber o que se passa na área tombada da Cidade Velha, principalmente nos fins de semana... O mesmo diga-se de muitas pessoas que se arvoram a defender o patrimônio histórico sem saber que é bem capaz de ter seus filhos ou outros parentes nos carros  dessa foto... por exemplo.

                                                   Praça do Carmo: noite 28.01.2023

É vergonhoso ver o que voltou a acontecer na Praça do Carmo depois da sua revitalização em fins de 2020. Em tal ocasião conseguimos, com a ajuda do Iphan, que fossem colocados balizadores no entorno das praças tombadas que estavam sendo revitalizadas...para evitar que continuassem a serem usadas como estacionamento.

                                                     Praça do Carmo: noite 28.01.2023

No caso da praça do  Carmo, já na véspera da sua inauguração fomos visitados pelos skatistas que fizeram todas as provas necessárias e aptas para destruir o patrimônio... Na semana seguinte começamos a notar o desaparecimento de lampadas...e começamos a denunciar. Cada um a seu modo destruia o patrimônio.

Aproveitamos a posse do novo governo na Prefeitura e, em maio de 2021, propusemos a construção de uma área de esportes na Tamandaré, pois a destruição da praça do Carmo tinha tomado vulto delinquencial. Os balizadores começavam a desaparecer.

A área esportiva na Tamandaré foi inaugurada,  sem o nosso conhecimento, mas sendo um espaço mínimo, os skatistas continuaram a frequentar a praça do Carmo. Os jogadores de bola continuaram, impertérritos, a usar a área como campo de futebol, e as plantas desaparecendo com o pisotear de todos. As crianças perdiam espaço para brincar.

OS DELINQUENTES DE DENTRO E DE FORA DO BAIRRO AUMENTARAM SUAS AÇÕES...E TODOS OS BALIZADORES DESAPARECERAM... COM ISTO O CAMPO FICOU LIVRE PARA QUEM TINHA CLIENTES com necessidade de espaço para estacionar seus veículos no fim de semana.


                                                      Praça do Carmo: noite 28.01.2023

De nada adiantou termos passado estes dois últimos anos a denunciar os furtos que aconteciam, nem o fato que tinham voltado a usar como estacionamento a praça do Carmo. Não vimos nenhuma providencia ser tomada... apesar da quantidade de órgãos, chamados em lei, quais responsáveis da  “defesa, salvaguarda, proteção , etc.” da  nossa memória histórica.

É o caso de lembrar que seja a CIOP que a Guarda Municipal tem "câmeras" instaladas na Siqueira Mendes, que poderiam ser de muita ajuda, neste caso à SEMOB, se... trocassem ideias  a respeito de uma melhor  vigilância da cidade. O que vimos acontecer ontem é inacreditável a qualquer pessoa com um minimo de civilidade... e se as câmeras estavam acessas, todos podem ver o que vimos  nós, moradores..

Na nota abaixo, chamamos a atenção de algo que precisa ser demonstrado na prática, em vários campos, inclusive o da luta contra a poluição sonora... Quem sabe alguém se acorda.

 https://laboratoriodemocraciaurbana.blogspot.com/2022/10/bens-culturais-e-probidade.html

Conquanto o dever de probidade não se limite ao campo do patrimônio cultural, ele ganha maior relevo em tal temática, considerando a natureza fundamental, indisponível, difusa, imprescritível, infungível e intergeracional desse bem jurídico, expressamente reconhecido como patrimônio público pelo art. 1º, § 1º. da Lei 4.717/65, sejam os bens culturais tombados ou não.

Não somente os associados da CIVVIVA, mas todos os moradores da área estão perplexos e estupefatos por tanto desinteresse e desatenção com esta área tombada... em tempo de pagamento do IPTU. 

Notamos que os impertérritos são muitos... e com o carnaval,  aumentam muito mais  e em todos os niveis, e alguns devidamente autorizados a delinquir.

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PS: -  “impertérrito” comportamento de  quem não se assusta, nem se amedronta ou se altera, frente as normas que desrespeitam.
- "delinquir" agir de forma criminosa ou delituosa.


sábado, 21 de janeiro de 2023

OPINIÃO: PRESERVAÇÃO E RECUPERAÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO DE BELÉM

 

No dia 17.01.2023 o prefeito Edmilson Rodrigues reuniu com representantes de diversas secretarias da Prefeitura Municipal de Belém (PMB), para debater ideias e estratégias "visando à preservação e recuperação do centro histórico da capital, por meio de reabilitação do patrimônio histórico", conforme matéria pública na Agência Belém.                                                                                                    

Acredito que, cidadãos de alguma forma comprometidos com nossa Belém, devam estar ávidos que a PMB inicie logo a fase de abertura de um canal para acolhimento de sugestões, além de audiências públicas com diversos segmentos da população. Os resultados de tais  momentos serviriam de elementos para a composição de um programa de necessidades de um grandioso projeto de intervenção, restauro e revitalização integrada em todo o Centro Histórico e entorno. O ato resultante deveria ser objeto de um concurso público nacional, para a seleção da melhor proposta.      

Afinal, a legislação vigente determina a participação ativa da sociedade civil na elaboração de planos de desenvolvimento urbano (Estatuto da Cidade: art 2 inciso II). Considerando que a atual gestão municipal estaria comprometida com os princípios democráticos, e o esperado cumprimento dos normativos legais; a população aguarda ansiosa ser convocada a colaborar nessa relevante empreitada (Lei Orgânica do município art. 108 inciso II e art 116 item VII).

Entre muitos outros elementos, nas intervenções urbanísticas estariam incluídas as edificações, e toda a infraestrutura urbana, que integram variadas paisagens da cidade, algumas impregnadas há séculos na memória coletiva de sucessivas gerações de habitantes e visitantes de Belém.                                                                                       

Seria oportuno ainda a inclusão de um plano específico de mobilidade para o Centro Histórico integrado ao sistema geral, mas com características adequadas às especificidades daquela parte da cidade, tais como, restrições para o trânsito de veículos automotores, e prevendo uma linha circular de transporte de passageiros, e os serviços de carga e descarga em veículos de pequeno porte e menor peso, para minimizar as vibrações danosas; e a reserva de algumas vias para circulação exclusiva de pedestres, mas com estrutura e desenho tais que permitam o acesso de veículos automotores, para o caso de situações emergenciais.

Esse trabalho seria também uma oportunidade de suprir a necessidade de um programa de regularização fundiária dos lotes, além de apoio e orientação técnica aos proprietários e herdeiros de imóveis particulares, na busca de alternativas de financiamento para restauro. Lembrando, inclusive,  o aproveitamento de várias edificações ora desocupadas, para implantação de moradias populares.                                                                            

Seria conveniente atentar para um conceito aplicado em vários casos de revitalização de centros históricos, que é a adoção de estratégias que estimulem usos e ocupações racionais e sustentáveis de áreas sub-aproveitadas ou degradadas, mas de forma a garantir a preservação do patrimônio cultural material e imaterial, e o convívio social harmônico.

Além do Centro Histórico, seria oportuna  uma política para o restauro de edificações pontuais de interesse para preservação em outros bairros e distritos de Belém, como os peculiares chalés da Ilha de Mosqueiro.                                                              

Pela magnitude do plano, necessariamente plurianual, ele seria implementado em sucessivas etapas.  Para garantir a sua materialização além de possíveis entraves por motivações políticas, ideológicas ou partidárias deveria  ser convertido em lei específica, com previsão de regulares e periódicas revisões e atualizações a cada dez anos.


Pedro Paulo dos Santos: arquiteto e urbanista

Vice Presidente da CIVVIVA

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

A CIVVIVA E ... SEU LIVRO

 

Em novembro de 2006, achavamos que a união das pessoas era algo fundamental para o resgate da cidadania, viabilizando assim o convívio civilizado e uma vida mais prazerosa. Esta portanto foi a forma que encontramos de presentear o bairro cujas origens coincidem com a fundação da cidade em janeiro de 1616, numa tentativa de preservar suas qualidades e características históricas.

Fundamos a  CIVViva dia 12 de janeiro de 2007, pensando que seria  um desafio para seus associados pois teria como propósito contribuir com a Alta Administração Pública Municipal identificando problemas, sugerindo soluções e apresentando novas idéias que possam ser implementadas com vistas a melhoria do bairro e da cidade.

Começamos  enviando uma carta de apresentação  a Governadora, Prefeito, Vereadores e aproveitamos para falar da necessidade de revitalização da Cidade Velha, e  da melhora da qualidade de vida de seus moradores e freqüentadores.

Pouco a pouco começamos a fazer algo: cuidar da nossa segurança, que andava muito abandonada... Doamos umas bicicletas à Policia Militar e iniciamos uma parceria. No segundo dia, obtivemos o primeiro resultado: montados nas nossas "bicicletas azuis"a PM enfrenta um assalto numa loja da Dr. Assis. Um assaltante fugiu numa moto e o outro foi preso. Todos exultamos.

Para amigos e associados, iniciamos umas aulas de Tai-chi-chuan na Praça do Carmo. Outro sucesso. DAI, no dia do primeiro aniversário da CIVVIVA durante um seminario sobre a Cidade Velha, nasce o blog  " LABORATÓRIO DE DEMOCRACIA URBANA" da CiVViva. Começamos avançando propostas finalizadas à recuperação do ponto de vista civil, urbanístico, social e econômico do nosso bairro. Na ocasião, vários intelectuais se ofereceram para colaborar.





 






Dai resolvemos fazer um livro sobre a Cidade Velha, e  começamos a preparar a Oficina Escola de Escritores, proposta e ministrada pelo jornalista e escritor Oswaldo Coimbra, pós-doutor pela USP em narrativas criadas com pesquisas históricas, no campo do Jornalismo.  A oficina tinha como objetivo um livro de resgate da memória da Cidade Velha. A essa iniciativa tinhamos o apoio do Grupo de Memória e Interdisciplinaridade, da Faculdade de Engenharia Civil da UFPA. 

Uma especie de vestibular foi feito e se apresentaram mais de 130 "estudantes" de idade variavel de 11 a 72 anos. Trinta vagas foram ocupadas pelos vencedores  que, todas  as manhãs de sabado, durante tres meses  se apresentaram as aulas. O Curro Velho e a Casa da Linguagem, entraram a fazer parte dessa parceria.

Exatamente 14 anos atras, em presença de todos os novos escritores, seus parentes e amigos da Associação,  fizemos o lançamento do livro. E foi outro sucesso. Maca Maneschi com seu violão abrilhantou a festa do segundo aniversário da CIVVIVA.


Os convidados
Os autores autografando  o  livro.

                              As mulheres da Civviva, que ajudaram a associação a crescer e... tentar melhorar a Cidade Velha.

FELIZ ANIVERSÁRIO À CIVVIVA E SEUS APOIADORES.

sábado, 7 de janeiro de 2023

QUANDO BELÉM FOI FUNDADA...


... não era de moda ir “para a praia”. Banho se tomava de cuia, dentro de uma tina ou na beira de um poço. Só os índios usavam os igarapés e os rios para se banharem. O pudor ainda estava na moda, lembrado e apoiado veementemente pelas igrejas, evitando assim que as praias fossem algo mais que portos de canoas, igarités e barcas a vela... Além do mais as casas da Cidade Velha foram construídas de costa para o rio, com seus trapiches.

Naquela época ainda se usavam muros entorno das cidades: eram a principal defesa usada até então. Evitavam fundar cidades na beira de rios, mares ou oceano, pois era mais fácil sua invasão. Belém foi fundada numa parte alta da orla. Era praticamente uma ilhota, pois além da área que ficava na beira do rio, tínhamos igarapés e alagados em todo seu entorno. Ideal para um forte. Depois a razão da sua fundação era proprio a defesa do rio, e da entrada de naves indesejadas.  

A abertura do Rio Amazonas à navegação internacional acontece apenas no dia  7 de setembro de 1867. Em 1872 o transporte fluvial no Rio Amazonas, foi  praticamente monopolizado por uma firma inglesa (Amazon Steam Navigation Co. Ltd). O perigo tanto discutido antes da abertura do rio se apresentou quando em janeiro de 1874 aportou em Manaus um vapor de longo curso da Amazon que voltou outras vezes até dezembro de 1876. Numa dessas viagens esse vapor levou, de contrabando, as sementes de seringueira... 

A razão da fundação de Belém perdia, praticamente, seu sentido, mas não se sentia ainda as consequencias, poi ninguem sabia ainda de nada. E Belem continuou a crescer de acordo com a cultura da época... e as casas continuaram a ser construidas longe da beira do rio.

Tem gente, hoje, que reclama porque Belém não foi construída em Salinas ou Mosqueiro. Coitados, não sabem que, em Mosqueiro - mesmo se em 1900 já havia gente rica frequentando-a - não  era usado para tomar banho na praia. Com toda a riqueza produzida pela borracha, ninguem entrava n'agua de rio nem para lavar os pés. Isso se desenvolveu paralelamente ao período  em que os banheiros começaram a chegar nas nossas casas, ou seja, depois da Segunda Guerra Mundial.

Com a queda do monopolio da borracha, Belém, parou de crescer e o capital estrangeiro foi-se embora. Até o início de 1940 a orla de Belém ao longo do rio Guamá (Acará, Maguarí!!!), partindo da Praça do Arsenal era quase totalmente desabitada e ainda coberta por mata virgem. Trapiches, sim existiam, mas portos, bem poucos, ou nenhum como o da hoje chamada Av. Castilhos França, que foi o principal fruto do periodo da borracha. 

A Av. Tamandaré era um lamaçal e uma das poucas ruas que chegavam até a beira do rio, além da trav. Padre Eutiquio  ( a ex-S. Mateus), era a atual Av. Alcindo Cacela, que ainda era de chão batido, e onde se encontrava a companhia aérea alemã Condor Lufthansa. Tem quem lembre que era costume das famílias levarem os filhos para assistir o por-do-sol e os pousos dos hidroaviões.

Pouco a pouco, a partir da Segunda Guerra Mundial e dos acordos de Washington que estabeleceram o fornecimento de ipecacuanha, aniagem, babaçu, cera de carnaúba, cera de urucuri,  borracha manufaturada, café, cacau, castanha-do-Pará, cristal de rocha, flores de piretro, "linters" de algodão, timbó,  mamona mica, rutilo... para os Estados Unidos, em troca, especialmente, do reequipamento das forças armadas com fornecimento de armas ao Brasil, aumentaram os portos em várias partes da orla de Belém.

Nessa época nasceu o Canal da Estrada Nova, com uma área revestida de concreto, para as bandas do Guamá, que os americanos diziam ter feito para conter a malária que infestava Belém. À boca pequena, em vez, se falava que “aquela vala” era na verdade uma trincheira a ser usada pelos americanos, caso a guerra na África se prolongasse. Os americanos também construiram a Rodovia Artur Bernardes unindo assim a recém construída Base de Val de Cães ao centro da cidade. Chega a Segunda Guerra Mundial e quase no fim dela, o Brasil manda os Pracinhas...

A guerra acabou e a cidade voltou a crescer, devagarzinho.  A SPVEA e, durante a ditadura transformada em SUDAM, tentaram ajudar o crescimento não so de Belém, mas de toda a Amazonia. A área que vai da Praça da Sé até a atual sede da  UFPA começou a ver aumentar o número  de portos de todos os tipos e tamanhos, entremeados com algumas outras atividades que podiam ser clubes de regata, fábrica de guaraná, serrarias, marcenarias, oficinas náuticas e, depois, lojas de materiais que interessavam aos ribeirinhos ..., além do bar da Condor. 

Juta, malva, uacima, peles de jacaré, frutas e outros produtos da agricultura, continuavam a ser a principal causa das nossas exportações... O cacau ja tinha sido proibido em todo Pará quando chegam as agropecuarias na Amazonia ajudadas pelos incentivos fiscais. A ideia de industrializar aqui a nossa materia prima, não vingou e a floresta começou a ser derrubada.

Aquele bar e os clubes náuticos eram os únicos pontos de recreação dos belenenses na orla de Belém. As casas perto de igarapés, para quem não tinha casa em Mosqueiro, aumentaram até que fizeram uma ponte em Salinas e começaram a correr para la as familias que ja tinham automovel a procura de casas perto da praia.

Na tentativa de salvar nossa memoria histórica, uma área de Belém, é tombada, mas isso não conseguiu freiar o desaparecimento de tantos casarões....nem a cobertura com asfalto dos paralelepipedos da Cidade Velha. As calçadas de pedras de liós também foram tombadas, mas esse ato, somente, não as salvava da atenção de quem precisava fazer uma entrada para a garagem.

Silenciosamente,  começaram a aterrar a área atrás do Palacete Pinho, do Porto do Sal até mais pra lá da av. Tamandaré, e locais de diversões noturnas e motéis começaram a aparecer. Como muitos portos não trabalham à noite começaram a usar essas áreas como danceterias ..., e começou o caos.

Já no século XXI, esses locais  noturnos, sem estacionamento para seus clientes começaram a usar praças e calçadas de liós, como tal. Apareceram flanelinhas para endereçar os motoristas rumo a grama das praças, destruindo-as. A poluição sonora no entorno de igrejas tombadas, aumentou e  ninguém tomou providências..., também. O nível da educação desses clientes piorou..., e os governantes nem notaram, ou seja, ignoraram, não tomando nenhuma providência mesmo se, nós, bem que avisássemos.

O carnaval com blocos de mascarados e bandinhas que usavam a Cidade Velha, foram praticamente explusos em 2013, e substituidos com trios elétricos e abadás, que nada tinham a ver com  nosso carnaval tradicional.  Até isso mudava em Belém.

Paralelamente é inaugurado o PORTAL DA AMAZONIA, fora da área tombada. Rápido o seu sucesso. A necessidade de áreas de lazer em Belém, ficou clara; mas, em vez de usar o resto da área em tal sentido, autorizaram um Atacadão na entrada do Portal. Tal construção irregular foi embargada mas, logo foi suspenso pelo próprio Ministério Público que tem como competência inclusive, defender  o meio ambiente e ser o fiscal das leis...

Não satisfeitos com o caos criado no bairro tombado, incluindo a presença  de carretas e trios elétricos a torto e a direito, um espirito de porco resolveu propor fazer um corredor de bares que começaria perto da av. Presidente Vargas, desceria toda a av. Castilhos França, entraria pela Feira do Açaí, subia para a Praça da Sé, e acabava na Praça do Carmo. 

Os clientes desses bares iriam chegar a pé ou de carro? foi a primeira pergunta que fizemos. Iriam continuar a infestar as calçadas de liós com seus veículos? Iriam usar "skates" ou patinete para chegar onde quereriam parar? E a poluição sonora iria ser permitida até na  Casa das 11 Janelas? Não tivemos resposta.

Qual turista ia sentar nesses bares para cheirar fumaça de onibus velho, foi outra pergunta que fizemos. Avendo quarenta ilhas, Belém, em vez de estruturar a floresta para ser visitada por "gente de fora", propunha fazer bares para... nossos beberrões.

Sobrava ainda um bom pedaço de terra de marinha na área do Portal: quem sabe uma área de lazer com serviços para os ribeirinhos, incluindo uma marina para seus po-po-pós. Naquela área seria bem mais útil algo mais para os moradores das ilhas do Município de Belém. Médicos, dentistas, creches, emissão de documentos... Esses serviços seriam convenientes também para os moradores da Cidade Velha, Jurunas, Condor... , além de áreas de lazer, mas não aceitaram nossas porpostas feitas durante a campanha eleitoral, e nem pensaram nisso, depois.

As praças da área tombada da Cidade Velha em 2020, foram revitalizadas, e colocaram balizadores para evitar o abuso dos mal educados, que as usavam como estacionamento. Vimos essa despesa descer pelo ralo do desinteresse politico, e os frequentadores do locais da rua Siqueira Mendes voltarem, em 2022, a estacionar na Praça do Carmo.

Depois das eleições vimos reaparecem projetos apresentados no governo anterior, como o do Mercado de S. Braz, e o corredor de bares, um pouco reduzido e com outro nome. De fato as obras do chamado Boulevard da Gastronomia já começaram... Será que ele vai acabar chegando até a Praça do Carmo? Os clientes dos locais já terão a disposição um estacionamento pronto..., sem um balizador para impedir seu uso.

Imaginem se agora  decidem fazer um calçadão, no meio do rio, paralelo a orla da Cidade Velha, para quem quiser apreciar o por do sol... Ou, quem sabe, modificar a área do Porto do Sal, fazendo restaurantes e locais afins, para...a classe media? Em vez, melhorar os portos para a chegada de navios-cruzeiro, também ninguem pensa.

É, independentemente de quem governa, tem gente que continua de olho aberto na orla "livre" de Belém, preferivelmente sem nem discutir nada com a comunidade. Ideias de jerico, é o que não faltam...gente conivente, cumplices e quem vive ignorando as leis e as necessidades  fundamentais do povo então, nem se fala. Gente que costuma apoiar apenas as situações que lhes oferecem algum tipo de vantagem, sem se importar se haverá benefícios concretos para o resto da coletividade, ou para a defesa do patrimônio, vai aparecer loguinho, com a desculpa de criação de postos de trabalho.

Uma pergunta que não quer calar: os garçons, todos,  vão ter carteira assinada????


PS: GENTE É CONTRA ESSAS MUDANÇAS DA NOSSA MEMÓRIA HISTÓRICA QUE NOS LUTAMOS... E NÃO GANHAMOS NENHUM TOSTÃO POR EXIGIR O RESPEITO DAS LEIS.