domingo, 21 de julho de 2019

GENTRIFICAÇÃO???


... OU IGNORANCIA PURA E SIMPLES  DAS LEIS??


Santo - aquele cujas mãos
construíram e levantaram
A serena beleza dessa Cidade
VeIha de sobrados pesados
Onde a pátina verde e esmaecida
 de suas fachadas
Simples e descoloridas
Se confunde
 Na mansidão tropical das galharias!
Velhos telhados umidos parecem
 repousar tranquilamente
 Na irregularidade secular e sombria
 Das praças pequeninas e solitárias
E que respiram 
Ainda os ventos das caravelas!
Belém! Cidade velha...
Que  vive na placidez do casario
conformado e triste
Recortadas no tempo!
Abençoadas mãos que ali abrigam
e hoje perpetuam
 Nas arcadas de pedra os ares de Lisboa!"

Augusto Meira Filho


Esta poesia nos lembra a Cidade Velha que as leis pretendiam “salvaguardar, proteger, defender e..." o que vemos em vez acontecer?


Abusos por todos os lados. Os mais chamativos, porém, são as cores fortes que substituíram aquelas ‘pasteis’, que faziam parte da nossa memoria até quando a fábrica de tintas Coral conseguiu convencer o IPHAN, de colorir nossos Centros Históricos.
Ai desembestou a ignorância das leis que falam de salvar nossa memoria histórica...e este ano piorou ainda mais.





Em frente ao Palacete Pinho na Dr. Assis                                                                                                       






Nos lados da fábrica de Guaraná Soberano, na Siqueira  Mendes       





Joaquim Távora 









Será que algum funcionario público passou por essas ruas, recentemente?
Vemos a preocupação que isso deveria causar, até na nossa Constituição, ao deixar claro no seu Art. 216,  ponto  V, § 1º, que:  O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro...".

Não da indicações para embelezar nada, mas de 'proteger'.

A nivel estadual, a Lei n. 5 629 de 20 de dezembro de 1990, que dispõe sobre Preservação e Proteção do Patrimônio Histórico, Artístico, Natural e Cultural  do Estado do Pará, no seu  art. 6  estabelece que o "poder público promoverá, garantirá, incentivará a preservação, restauração, conservação, proteção, tombamento, fiscalização ou execução de obras ou serviços e a valorização do patrimônio cultural paraense, preferencialmente com a participação da comunidade".

Vemos, relativamente as construções, que usando aqueles termos, não facilitam a  mudança de cores, de estilos,  nem de introdução de vidros fumê, ou debruns de cores contrastantes em portas e janelas dos prédios, além de  forros de gesso e porcelanatos. De fato, até  a revitalização não está prevista, mesmo se alguns abusaram dela.

O que fazem o IPHAN e a SECULT para garantirem e promoverem  a valorização desse nosso patrimônio? E a conservação dele, como é feita?

Ambas essas leis dispõem sobre a necessidade de garantir a preservação do nosso patrimônio cultural.

A Lei Nº 7709 de 18 de maio de 1994 de Belém  (Fumbel) estabelece no seu art. 2 § 1º que - Compete ao Poder Público Municipal promover a conscientização pública para a conservação do Patrimônio Cultural..

... e como é que a Fumbel esquece de cuidar disso? Não presta atenção para o estrago que estão causando na Cidade Velha? Quem autoriza isso não conhece as leis? O fato de estarem no entorno de  prédios tombados, não modifica a ideia do conjunto? Não transforma numa aberração ?

O IPHAN não vê  como  estão modificando nossa memoria? Quais ações de apoio dá a defesa e proteção dos bens?  Existem ações de salvaguarda  para os  prédios e calçadas?

Que sentido tem o tombamento, se não é acompanhado de ações coerentes com as  necessidades dos bens em questão? Salvando a memória, não deturpando-a e criando "falsos" que nada tem de histórico;

A  colonização portuguesa não deixou lembranças coloridas, como podem ter feito outros colonizadore  em outras cidades. Aqui as cores eram tênues...por que esquecem desse detalhe e permitem cores tão fortes? Não precisaria nem lei, nem prospecção sobre as cores,  para respeitar nossa memoria.

De fato, as prospecções feitas em  prédios  ecleticos, onde foram encontradas  cores fortesnão devem ser generalizadas, pois são uma exceção a regra.

A juventude e os turistas são assim  mal informados sobre nosso passado através desses 'falsos históricos'  e, o grupo musical Mosaico de Ravena, acaba tendo razão.

              [
                                      Praça do Carmo canto com a D.Bosco


                                        Fundo da igreja  de S.Joao Batista.



                                   Avenida Nazare (largo da Memória ou redondo)

Por exemplo: o grafitismo não podia ter sido endereçado para outros bairros onde a memoria não é salvaguardada por leis? O termo "entorno" perdeu seu sentido? Será que depende, agora, da interpretação de quem está dirigindo os orgãos responsáveis pela defesa da nossa memoria? (que nem especializações em Direito tem).

Notamos, também, que nem todos aqueles que estão chegando agora na Cidade  Velha tem interesse na defesa/proteção/salvaguarda da historia e memória da área tombada. Muitos chegam com a intenção de  modificar, inclusive, o modo de viver, o ritmo  e os costumes daqueles que sempre viveram no bairro.  

Quem está apoiando e incentivando  essa 'gentrificação'?

Não vamos aprofundar problemas que existem mas que eles não conhecem, nem se preocupam em ajudar a resolver, como o:
- do Palacete Pinho e outros prédios, abandonados;
- da poluição sonora o ano inteiro;
- da trepidação causada, também, pelo transito e por manifestações de vário tipo...

...mas achamos que é necessário que seja feito algo para que não continuem tentando  mudar o que sobrou da  nossa história e dos nossos costumes, assim tão descaradamente, em alguns casos inventando interpretações novas...



Estes são os que ladeiam  a Fabrica de Guaraná Soberano (foto abaixo), na Siqueira Mendes.