sábado, 28 de outubro de 2023

INFERNO NUMA PRAÇA TOMBADA

  

Domingo antes do Cirio, vimos desde cedo movimento na Praça do Carmo. Uma tenda foi montada no meio da praça, virada para a Siqueira Mendes (!!!) e do outro lado da praça, cadeiras e mesas ocupavam a parte que dava para a D. Bosco.

Ia ter farra em frente a igreja feita pelo Landi, tombada, e situada em frente ao fórum que nasceu para defender a revitalização do Centro Histórico de Belém.

Pouco movimento antes do almoço e o vai-e-vem de alguns pais com crianças, enquanto faziam as provas do som... Do outro lado chegavam os cliente para o almoço, no bar do canto da D. Bosco...

La pelas 16 horas, ou pouco mais, começou o embate. Ambos os locais começaram a tocar: contemporaneamente e sem respeitar os decibéis previstos pela CONAMA: UM SUPERANDO OS 60 dcb E O OUTRO CHEGANDO AOS 90dcb.

As casas começaram a tremer. Não adiantou fechar as janelas, a trepidação se sentia do mesmo jeito...E chegou a hora da missa...e nada mudou. O inferno não podia ser diferente do que estava acontecendo.

A pergunta que fazemos é: quem autorizou não notou que estavam ambos na mesma praça em frente a uma igreja tombada? Se esqueceram que o Código de Postura sugere uma distancia superior a 200 metros de hospital, templo, colégio, por contrário à tranquilidade da população, e a NBR 10.152 estipula 50/55dcb naquele setor da cidade?

No chão começamos a reparar pedaços do peitoril da janela da sala.

E chegou a semana do Cirio e o desrespeito as leis continuaram com o ensaio e a apresentação do Auto do Cirio... A pedido dos romeiros, que não conhecem as  normas e a aceitação, por parte de quem ignora as leis, os danos ao patrimônio privado  vieram a tona.  Aumentaram as rachaduras no tal parapeito de pedra, da sala.

O Auto do Cirio também foi fundado para ajudar na revitalização do Centro Histórico de Belém... mas desse modo? Será que não sabem que paralelamente aos danos criados com essas manifestações "culturais" também temos durante o resto do ano: - as carreta enormes e pesadas que passam pela area tombada; - as reivindicações dos trabalhadores através de trios eléticos em frente a ALEPA, que se encontra  do lado de outra obra do Landi, hoje chamada Museu do Estado; aos fogos de artificio que, apesar da lei que os proibe, continuam a ser usados quando tem RE/PA, ou festas religiosas...nas igrejas do Landi.

Os danos que resultam de tais abusos, serão pagos por quem aceitou o pedido dos romeiros? ou pelos romeiros atendidos  por tal pessoa?

Francamente, quem eles pensam que devem respeitar as leis nesta nossa democracia? Quem paga os danos aos proprietários privados de bens danificados e provocados por tais superficialidades dos órgãos públicos autorizando o que a lei não permite?

Isso não acontece somente  no periodo do Cirio, dura o ano inteiro, com menos intensidade mas sempre desrespeitando as leis e provocando danos a terceiros... provocados por gente que se diz DEMOCRATA. 

HA TEMPOS SUGERIMOS A INCLUSÃO,  AGORA ATÉ PARA PROFESSORES, DE CURSOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL, PATRIMONIAL E DO TRANSITO.... o motivo é claro: desconhecimento do DIREITO, das leis em vigor, seja por quem autoriza tais eventos,  seja por professores ou outras pessoas menos preparadas para interferir no governo da cidade.

... não estamos na França, gente...

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

FOI PESADELO???

 

Quarta feira, devia estar dormindo e me aconteceu  isto: me vi chegando da rua, mudar de roupa e ir molhar as plantas do meu mini jardim. Um grupo de pessoas conversava na escadaria da praça e sinalizavam mangueiras e postes... Achei portanto que eram da Prefeitura e que tinham ideia de colocar lâmpadas na praça que andava tão escura.

Me convenci disso, pois o Cirio  era no fim da semana, e resolvi ir ter com eles e dar umas ideias a respeito... E fui, e quando cheguei la perguntei se eram da Prefeitura: Não, me responderam, somos do Auto do Cirio...AAAhhh, respondi eu: persone non grate, para nós...  Como? perguntou uma das mulheres do grupo. Com toda a trepidação que vocês provocam não respeitando os decibéis previstos nas leis... e a mulher: e tem uma lei que estabelece isso? e eu respondi:  Pois é, tem. So o nivel dessa resposta ja me deixou aflita.

Resolvi me apresentar, virei-me em direção da minha casa e mostrei o banner, que  fala de “luta a poluição” e disse que era a presidente da Civviva. Ela disse que era professora de teatro na França e que o reitor da UFPa, a tinha chamado para dirigir o Auto do Cirio, em substituição dos outros... anteriores.

Comecei a duvidar desse papo, mas ela continuou falando e disse que não ia ter musica este ano no Auto mas um coro de mãos batendo palmas e, virando-se para os outros, como se esperasse confirmação, disse que o reitor queria falar comigo para me agradecer... O resto do grupo, os homens, me olharam com desprezo e  aproveitaram para se afastarem, ficando somente a outra mulher, mais jovem, conosco.

Achei estranho essa história do reitor e das propostas que faria a ele a meu respeito, assim,  para mudar de assunto falei que por anos alguns dos membros/artistas, mudavam de roupa na minha casa e a moça mais jovem disse que se lembrava disso, que me conhecia daquela época.  A prof. de teatro falou então que isso não ia mais acontecer, que todos já chegariam prontos.

Tentei prosseguir dizendo que nos gostávamos do que faziam até o momento que começaram a mudar...  e ela me interrompe mais uma vez e diz: porque chegaram os trios elétricos, que eu nem me lembrava mais, e parei para pensar. Verdade, disse então, e aproveitei para falar da poluição e ela disse: não vai ter mais  trio elétrico.

De longe os homens a chamavam e ela continuou falando e concluiu dizendo que ia trazer o Reitor, de noite, para falar comigo...e foram embora.

Voltei pra casa e... me acordei com o barulho e os gritos histéricos que provinham de um trio elétrico... Era o ensaio do Auto do Círio que estava, realmente acontecendo...

Teria tido um pesadêlo?...  aquilo parecia coisa de doido, e nem tiveram ideia de  trocar ideias com a cidadania. Impunham o que queriam.  Pensam que todos são seus alunos...??? Dialogo com quem conta na área, a começar pela CIVVIVA, nem em sonho.

E teve trio elétrico, mesmo se não tão grande; teve musica e decibeis altissimos ...com paradas em frente as obras tombadas de Landi...

Depois soubemos através desta entrevista o quanto, pessoas da UFPa, ignoram as leis, os moradores e a Associação : 

"A professora Inês Ribeiro explica a mudança no trajeto deste ano “Voltamos para a Praça do Carmo, porque lá pediremos bênçãos à Nossa Senhora do Carmo. Foi um pedido dos artistas devotos. Além disso, muitas pessoas também sentiram falta do cortejo sair lá da praça do carmo. Então, resolvemos voltar às nossas origens”, detalha."

É desse modo que fazem a "revitalização do Centro Histórico de Beléma partir das festividades do Círio de Nazaré", e que foram  a base do nascimento do Auto do Cirio?

PS. Ver as origens ... como tudo nasceu... https://laboratoriodemocraciaurbana.blogspot.com/2023/10/revitalizacoes.html

...e como nada se desenvolveu democraticamente, depois desse encontro com uma pro reitoria da UFPa.

https://laboratoriodemocraciaurbana.blogspot.com/2019/09/encontro-civvivaufpa.html


quarta-feira, 4 de outubro de 2023

EDUCAÇÃO: um agente transformador.

 

A cidade de Belém tem três manifestações culturais de rua, apreciadas e muito concorridas e que se desenvolveram no bairro da Cidade Velha. Falamos, em ordem alfabética, do Arraial do Pavulagem, do Auto do Círio e do Carnaval.

Todos os moradores da área tombada do bairro, que é aquela usada e abusada por esses eventos, os apreciam e até frequentam. Porém, isso não inibe ninguém de reclamar da parte negativa que acabam tendo essas manifestações.

Tratando-se de área tombada, hoje, algumas normas deveriam ser respeitadas, a começar com a necessidade de evitar “ruídos e vibrações”, exagerados. O barulho causado pelos instrumentos musicais provoca vibração e o transito de carretas provoca trepidação, consequentemente, ambos provocam danos ao patrimônio histórico e também ao ser humano. Não precisa proibir, mas evitar danos, sim. Bastaria respeitar as leis.

- O Arraial do Pavulagem trazia cerca de 10.000 pessoas para a praça do Carmo, para a frente de uma igreja construída por Landi em meados do século XVIII. Para chegar até lá, passavam pela igreja de Sto Alexandre e pela igreja da Sé. Ambas também passaram pelas mãos de Landi, em 1700... e não é que paravam os ruídos por esse motivo.

O Arraial tinha um comportamento bastante civil, pois se preocupava com a presença de banheiros químicos, com limpeza da praça e com a dispersão das pessoas após o espetáculo. Conversa vai conversa vem, chegaram a conclusão que, realmente os ruídos provocados pelo evento não ajudavam a salvaguarda, defesa e a proteção daquela igreja tão antiga. Até hoje agradecemos a sensibilidade e civilidade daqueles que resolveram mudar de área com tal evento.

- O que acontece com o Auto do Círio, em vez, é muito pior, porque durante alguns anos até os ensaios eram feitos na praça em frente a já citada igreja do Carmo, durante o mês de setembro... Insistentes reclamações por tal falta de respeito ao patrimônio não foram levadas em consideração. O cortejo iniciava na praça do Carmo, de onde saia depois de umas três horas de concentração, já com os “tambores rufando” e  superando cem decibeis. 

Criado para revitalizar o Centro Histórico de Belém, a partir das festividades do Círio de Nazaré, foi, ano após ano, se transformando num evento que chegava a ter cerca de 60 mil espectadores/seguidores. Todos os monumentos tombados mais antigos de Belém, eram ponto de parada visto o trajeto feito saindo da Praça do Carmo. O itinerário continuava pelas ruas Dr. Assis, Padre Champagnat /Largo da Sé, Tomázia Perdigão até a praça D. Pedro II, em frente aos palácios Lauro Sodré e Antônio Lemos, local da apoteose e encerramento do Auto. Os ruídos superavam os cem decibéis, em tais paradas... a que propósito? 

É o caso de lembrar que nessa área, a esse evento se juntam, durante o ano inteiro, outras manifestações.  Em frente da ALEPA, as reivindicações de trabalhadores, por exemplo, são feitas usando trios elétricos, que também não respeitam os limites de decibeis previstos nas normas em vigor.

A Cidade Velha sempre foi fonte de carnavalescos que de lá saiam em direção às ruas do centro. Entrando nos anos 2000, o Eloy Iglesias e o Kaveira ocuparam a parte do bairro, ainda não tombado pelo IPHAN, e o animavam com suas bandinhas e mascarados. Outros blocos com essa mesma ideia de salvaguardar o nosso carnaval tradicional também passavam pelo bairro, para alegria e diversão dos moradores.

Em 2012 as coisas mudaram. O governo eleito para a cidade autorizou os trios elétricos e praticamente expulsou o “nosso” carnaval mais autêntico, dando início a invasão da Cidade Velha pelos abadás e outros elementos copiados do carnaval de outras regiões ... Tem início o caos: num domingo a Praça do Carmo tinha uns dez trios elétricos tocando músicas de todo tipo, alto e...não as marchinhas a que estávamos acostumados.  

Os anos sucessivos foram piorando a situação e um grupo, bem forte economicamente, se apossou do bairro modificando totalmente o carnaval a que estávamos acostumados. Mesmo após o tombamento da área pelo Iphan nenhuma atenção foi dada aos abusos que víamos acontecer naquelas ruazinhas. A Civviva, associação de moradores que tentava defender o patrimônio histórico, foi a primeira a ser excluída das reuniões com a Secretaria de Segurança, quando a discussão era o carnaval. 

Mal ou bem, o carnaval passou para a Tamandaré, ou seja, para o entorno da área tombada... e novos problemas vieram a tona e deveriam ser resolvidos no carnaval seguinte, mas chegou a PANDEMIA. 

Então: VISTO QUE A POLUIÇÃO SONORA É CONSIDERADA UM CRIME AMBIENTAL, por que insistir em deseducar os cidadãos ignorando as normas em vigor? Os tres exemplos dados são fontes de desrespeito generalizado. Se reconhecemos que a poluição sonora com seus ruídos e vibrações, provoca a degradação da qualidade ambiental, porque não evitar isso? Não estamos pedindo para acabar com a música ou outra fonte ruidosa de arte ou de defesa dos trabalhadores, mas de fazer o possível para ficar dentro do que as leis em vigor recomendam... ao menos. 

Resulta que cabe aos Municípios legislar sobre os aspectos aplicáveis a convivência urbana, tendo como base as normas técnicas editadas e atualizadas pelos órgãos normatizadores, ou seja, pela ABNT e o INMETRO. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) definiu, há alguns anos, índices de poluição sonora aceitáveis. Em zonas residenciais urbanas, o limite é de 55 dB de dia e 50 dB à noite. 

Queremos salvaguardar e proteger nosso patrimônio? Por que não aplicar esses indices, ao menos na área tombada de Belém? Até os sinos das igrejas podem seguir esse exemplo, visto que muitos já são... eletrônicos.

Sem vigilância, nem algum tipo de controle, até os fogos ruidosos continuam sendo usados apesar da recente lei estadual proibindo-os... somando-se, assim,   aos outros exemplos dados, cujas consequências negativas abrangem, não somente o patrimônio histórico e ambiental, mas as casas dos cidadãos e os seres vivos também.

A educação é um dos  grandes agentes transformadores que pode ser usado nestes casos.