domingo, 27 de julho de 2014

EU TIVE UM SONHO....


SONHAR NÃO CUSTA, e eu tive um sonho...

Bem antes de começarem a  falar dos 400 anos de Belém, do que fazer e  como festejar essa  data, eu comecei a  pensar e sonhar.
- a primeira coisa foi a data, pois até menos de 100 anos atrás ainda se discutia se era dia 12 ou 26 a data exata da fundação de Belém;
- depois comecei  a pensar que, qualquer fosse a data, quem nasceu foi a Cidade Velha.  De fato, Belém se concretiza quando doaram a primeira légua; quando teve um território estabelecido, determinado. A ilha Pará, passou  então a ser chamada de Cidade Velha, pelos moradores da Campina, depois que começaram a popular o lado de lá do Piry;
- e assim, para festejar a Cidade Velha  comecei a pensar, a sonhar em melhora-la. Convidei um amigo arquiteto em casa e lhe propus um plano para a futura aniversariante e juntos o transformamos numa coisa linda, feita no respeito da nossa memória e de todas as leis, regulamentadas ou não.

Naquele  'sonho’ a Cidade Velha tinha suas calçadas de liós todas bem arrumadinhas para uso exclusivo dos pedestres;  tinha  lixeiras que iriam ser distribuidas em praças e calçadas, quem sabe até financiadas por firmas locais; tinha sua orla toda bem tratada, com um shopping na beirada com os produtos que os  ribeirinhos vem comprar aqui; tinha porto para os pópópós e pronto-socorro, logo ali;  as ruas fechadas abusivamente na orla, seriam reabertas e preparadas para o uso dos cidadãos; a fiação elétrica  passaria a ser subterrânea, assim as calçadas ficariam livres dos postes que impedem o seu uso por pedestres; as placas com os nomes das ruas diriam também quem era aquela pessoa ou aquela data a que se referia; as casas dos moradores famosos do bairro teriam uma placa de identificação sobre quem ali morou;   tinha um bonde que passava pela Dr. Assis, saindo da Praça do Relógio, dando a volta na Praça do Arsenal e voltando  ao ponto de partida, como a antiga linha Bagé; os moradores da baixada do Carmo iam morar nos arredores do Mercado do Sal e ali nasceria um ‘orgão’,  movido pela agua do rio; as cores das casas voltariam a ser aquela da nossa memória, claras, de tons pastel; atrás do palacete Pinho, nasceriam áreas para atividades esportivas destinadas a todas as idades; do lado de lá da área tombada, seria incentivado  o nascimento de bares/restaurantes;  nas praças seria prevista  a venda de   tacaca, garapa e os doces regionais; nos arredores do canal da Tamandaré nasceriam estacionamentos e ele  iria receber paisagismo, iluminação e limpeza constante;  concursos de “flores na janela” iam ajudar a colorir as ruas;  os 200 metros de distancia de igrejas e  colégios, previstos no Código de Postura, para a realização de eventos, iriam ser respeitados;  para salvaguardar as ‘herdades’ da trepidação, ficaria proibido o uso de bandas  barulhentas (e afins) no bar das 11 Janelas e no  entorno de monumentos tombados;  seria incentivado o carnaval de bandinhas e mascarados;  a Guarda Civil iria cuidar das praças durante o dia e a Policia Militar, durante as noites;.....

O sonho continuava determinando até a roupa das vendedoras de comida, ou seja, a mesma roupa que usam as personagens que  a nossa pintora Feio imortalizou  nos seus quadros em visão no MABE..... mas daí, eu acordei.

Na Comissão dos 400 anos e mesmo nas sub comissões não tem espaço para sonhos. As duas ou três propostas que ousamos fazer, juntamente com muitas de outras pessoas, foram eliminadas. Até as  campanhas educativas maciças  e permanentes nas escolas municipais,  para criar ou levantar  nossa autoestima desapareceram; as aulas sobre patrimônio histórico e ambiental, idem. Resta saber se essa eliminação é uma transferência das propostas às Secretarias competentes por argumento. Quem dera, mas quando saberemos disso?

Acho que esse 'sonho' acabou mal... através dessa Comissão, não vamos ter nada disso. A salvaguarda, a defesa, a preservação e a valorização da nossa herdade, são argumentos que vamos ter que nos ativar para continuar cuidando de algum modo e bem de perto, para evitar de perder totalmente nossa memória....e a Cidade Velha, seus moradores, suas necessidades e as leis, coitados, vão continuar sendo ignorados.


Dulce Rosa de Bacelar Rocque

sexta-feira, 25 de julho de 2014

A defesa do patrimônio na America Latina...e a nossa



Alguns  países nossos vizinhos tem uma relação com a própria história de fazer inveja. Infelizmente, porém, eles não estão na lista de prioridade das opções de viagens da maior parte de nós, o que é uma pena.
O modo como tratam suas cidades, seu patrimônio, seu passado nos faria notar o nosso atraso e o desinteresse da nossa classe politica por tal setor.

O Perú vive, praticamente, de turismo, e são organizadissimos. O México, nem se fala. Seus "indios" tem dignidade de cidadãos e sua cultura é respeitada e valorizada. E a Colombia,  Equador, Costa Rica, o que sabemos deles? Quantos de nós ja foram visita-los? O que sabemos da história desses povos?

A Colombia, é nossa vizinha, mas para visita-la, temos que rodar um bocado pois o que nos propoem as agencias de turismo é um tour de troca de aviões. De fato temos que ir para S.Paulo e depois para o Panamá e dali para Bogotá. Será este o motivo que nos impede de conhece-la?  Em vez é util e até vergonhoso para nós, descobrir como cuidam do patrimônio histórico deles.

Em 2010,  através da Direção do Patrimônio do Ministério da Cultura colombiano,  resolveram  "construir e implementar ferramentas pedagógicas dirigidas aos setores relacionados com o patrimônio e a comunidade em geral, a fim de fomentar o exercício do direito a memória, o sentido de pertencimento, a convivência e o respeito pelo patrimônio cultural e pela diferença,  aspectos indispensáveis para a implementação de uma politica responsável a favor do patrimônio cultural".

Recentemente eles apresentaram a terceira edição do "manual educativo para docentes "Introdução dos jovens na proteção do patrimônio cultural  e dos centros históricos".   O interesse principal era  "gerar ferramentas para o ensino e a aprendizagem de temas relativos ao patrimônio cultural, e facilitar metodologias que contribuam a apropriação social do mesmo, com a intenção de gerar  processos sustentáveis de salvaguarda do patrimônio baseados nos conhecimento da memória e  identidade da sociedade". 

Eles começaram, porém em 2002, participando de um curso de quatro dias organizado pela representação da  UNESCO em Aman, com a colaboração da Rede de Planos de Escolas Associadas da UNESCO e do ICCROM.. O curso foi em Petra, na Jordania, e o objetivo era "estabelecer um modelo de cooperação entre quem dirige as escolas e aqueles que dirigem os sitos historicos e assim desenvolver ferramentas e métodos a serem incorporados ao patrimônio cultural e nos programas de estudos dos centros educativos"
Será que alguém do  IPHAN participou desse curso?

Nota-se que o objetivo principal desse opúsculo é incentivar a colaboração, a solidariedade entre quem trabalha com patrimônio e quem deve aprender, ou seja, os colégios, através da criação de vínculos entre os professores e  as pessoas responsáveis pela cura do patrimônio. Os argumentos tratados são vários e servem de ajuda, não proporcionando  métodos definitivos. E os resultados ja  podem ser vistosr em várias cidades de lá.

Agora, falando de nós, de Belém: bem que nós propusemos na sub comissão dos 400 anos que aulas de educação patrimonial e ambiental fossem previstas  nas escolas municipais, do primeiro ao ultimo ano, mas não foi aprovada. O que será que estão fazendo, ou programando, as Secretarias Municipais a respeito? quais ferramentas pedagógicas vão  fomentar o direito a memória dos nossos estudantes? Que exemplo podemos tomar da Colômbia ou de outros nossos vizinhos?

Nossos estudantes vão crescer pensando que antigamente as casas eram coloridas como se as ruas fossem  um cenário de carnaval;  vão pensar que o vidro fumê ja existia no tempo colonial; que o paralelepípedo era somente uma forma geométrica; que na Cidade Velha tinha um monte de bares e restaurantes. Enfim, uma verdadeira ficção, pois nada disso tem a ver com o que dizem as leis ou com o que lembramos.

Quando será que notaremos um pouco de "vontade politica de defender nossa memória"?  quando é que veremos respeitar a noemativa vigente (e devidamente regulamentada)? Por enquanto, o que notamos é o aumento de uma poluição de ações, esparsas, abusivs e contraditórias,  que nada tem a ver com a prevista "salvaguarda" do que ainda temos.

PS: para quem quiser maiores informações:
 http://www.iccrom.org/ifrcdn/pdf/ICCROMGuiaparaense%C3%B1arpatrimonio_COL_sp.pdf


quinta-feira, 17 de julho de 2014

...e o Bechara Matar????


Dia dois de junho realizamos na Câmara De Vereadores de Belém uma  Sessão Especial a fim de promover um amplo debate sobre a “implantação de um shopping no Centro Histórico de Belém (Bechara Mattar)”.

Presentes, além do Vereador Moa Moraes, Dr. José Potiguar representando o MPF; a  Dra. Dorotea Lima superintendente do IPHAM; a Dra. Leni Carvalho da OAB; Dr. José Varela representando a APF entre outros representantes da sociedade civil e de associações locais.

Ficou decidido transformar o encontro em uma discussão sem ceremônia o que o tornou bem mais produtivo. Fomos informados, por exemplo,  da reapresentação  ao Iphan, da mesma prática...

O debate  foi muito interessante e enriquecedor. Aguardamos as consequências.

Agradecemos o Vereador Moa Moraes pela disponibilidade.