segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

FALANDO DE CONTAMINAÇÃO


               Por acreditar na necessidade da existências de leis numa sociedade, em novembro  de 2006, recolhemos  umas cem assinaturas para fundar uma associação que defendesse os interesses desta área tombada e de seus moradores....no modo previsto nas leis  " com vistas a garantir o exercício de direitos conferidos às pessoas físicas e/ou jurídicas, sociedades de fato, etc."
        
               Este ano a CIVVIVA fez dez anos de lutas, com alguns sucessos e muitas mágoas provocadas pela insensibilidade de pessoas  que  deveriam, ao menos, respeitar o cidadão e defender o  que sobrou  do nosso patrimônio....

               Ultimamente vemos de tudo, menos a defesa da nossa memória histórica, como estabelecem as leis. Sejam os orgãos destinados a isso, que os cidadãos, ou muitos deles, acabaram se contaminando com outras culturas, forçando, desse jeito, o esquecimento da nossa, em vez de defendê-la ou, aproveitando para ganhar dinheiro por aqui.

            Vamos parar para pensar no passado: como eram as nossas casas? quais as cores de seus muros? Tinham janelões de vidro fumê? No nosso carnaval tinha "axé"?    Os  blocos  carnavalescos eram  de mascarados  ou  todos  estavam  fardados  com  abadá, financiados por tantas firmas e até por faculdades? Eram bandinhas ou trios elétricos que acompanhavam esses blocos? estamos na Bahia? A quando o Sertanejo? 

             A Cidade Velha foi tombada por ter ainda muitos vestigios do nosso passado, e para defende-la, é necessário, antes de tudo: CONHECE-LA. Sempre foi um bairro metade comercial, metade habitacional, por isso nos fins de semana o movimento era muito menor. A Siqueira Mendes, primeira rua de Belém, num determinado momento começou a abrigar  oficinas de reparação de barcos e naus, visto que dava para o rio. Suas lojas e oficina se entremeavam com casas de familia, quando elas não  eram em cima das loja. Nunca teve bares, mas portos, sim, até hoje. Enche-la de bares salva a memória de quem? Melhor seria, porque mais util, usar as áreas abandonadas para fazer estacionamentos, assim as calçadas de liós poderiam reaparecer  e o pedestre não ia continuar a ter que andar pelo meio da rua.

              Quem hoje ainda vive no bairro, o faz exatamente por ele ser pacato, mas daí chegaram as carretas para servir os locais noturnos e ajudar a trepidar as paredes daquelas casas antigas do entorno. As vans  também chegaram e o transito ficou mais lento e abusado. Mesmo reclamando para corrigir essa realidade, não se conseguiu nada.

                 A abertura  de locais barulhentos  sem estacionamento para seus clientes, so fizeram aumentar a trepidação e chamar flanelinhas que descobriram a grama da praça do Carmo para estacionar os veiculos dos clientes... e quem se importou? Qual orgão de defesa desse nosso patrimônio chamou atenção de quem permitiu isso, lembrando à necessidade de salvaguardar nossa memória?

                E o barulho? Desde quando 'cultura' é tirar o sossego das pessoas? É se aboletar numa porta e fazer barulho, além de ocupar as calçadas, contrariando o que dizem as leis? (ver art. 63.VII do código de Postura, ou o art. 54 da Lei de Crimes ambientais).

            Hoje, passamos  em frente a casas onde uma fumaça de incenso invade as ruas...  o que significa isso? Qual cultura estamos defendendo? A da India? Desde quando ocultamos maus cheiros desse jeito? Nós, lavamos quando fede...

           Encher os bueiros, é coisa comum em Belém, dai vem gente de fora circular pelas ruinhas da Cidade Velha e as latinhas de cerveja vão parar no chão e, com a chuva, vão direto para os bueiros.... Mas quem limpa? Entupir bueiro é facil, basta ser mal-educado, mas limpar quem ha-de? É desse jeito que querem movimentar o bairro?


                 Ja não basta o lixo abandonado nos cantos das ruas? dai vem um boteco, fecha a rua, põe cadeiras e mesas nas calçadas e na praça, e impede a passagem do carro do lixo... e o lixo fica de quinta a segunda, esperando o lixeiro a causa de quem veio ganhar dinheiro na Cidade Velha....mas respeitar as leis e o patrimônio, nem tchum...


                     Para arrematar tanta distancia da nossa memória, quem casa na igreja da Sé ou do Carmo, solta foguetes que nem na passagem da Nazica, com a permissão dos padres, ajudando assim a piorar a situação dos prédios no entorno... e dos passaros, passarinhos e periquitos que estão nas mangueias.


                  Fomos contaminados com tudo o que não presta, com esta vontade de modificar a Cidade Velha. Mas se gostam tanto dela por que modifica-la? Será que conhecem o art. 216, V, 1 da nossa Constituição  que di\"O Poder Publico. com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimonio cultural brasileiro..." Será que é desse jeito que pensam de aplicar a lei e conservar o que sobrou???

             Na nossa campanha pela SALVAGUARDA DA CIDADE VELHA, feita através de banners colocados nas janelas de casas  e lojas, uma frase  chama atenção: Cidade Velha, mais que um bairro, uma cidade. De fato, salvo raras exceções, resolvemos nossos problemas aqui dentro.  Se não fosse a insegurança, ninguem a trocaria por um apartamento, portanto não estamos falando de gentrificação, porque o que está acontecendo não melhorou em nada a vida dos moradores, mas conseguiu depreciar, e muito, não somente o valor de seus prédios mas as condições de vida de pessoas que optaram por viver aqui.

           Estamos falando de contaminação; de afastamento do que é a "nossa cultura"; de como sempre vivemos;  do que fazem os orgãos que nasceram para defender o que é nosso.  Quem quer que queira fazer "cultura', em boa fé,  tem que, antes de tudo se aculturar, ao menos conhecendo, além da nossa história, as leis, para não vir desrespeita-las, onde se vivia em paz, nem acabar de contaminar nossa memoria.

           A CIVVIVA não nasceu para ser conivente com o que está acontecendo. Cultura e cidadania não se faz ignorando as leis.

                                    2017 vai ser mais um ano de lutas.