Já em curso, a licitação para o Terminal Marítimo de Cruzeiros   Turísticos pode não acontecer.  O Hotel Hilton, cuja obra esperou três   anos para receber autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e   Artístico Nacional (Iphan), depende de uma engenharia financeira para   sair do papel. Nos casarios antigos, os compradores que aparecem não   recebem aval para reformá-los. A ideia de utilizar os armazéns do porto   para criar instalações turísticas - aos moldes do Puerto Madero, em   Buenos Aires (ARG) – ainda não engrenou. Em resumo: a requalificação do   Comércio emperrou.
 A explicação do chefe do Escritório  de Revitalização do Comércio,  Marcos Cidreira, é rápida e direta: falta  atuação dos demais órgãos  públicos, federais, estaduais e municipais. 
  
 “O  escritório está pedindo a união e colaboração de todos no  sentido de  que cada um faça sua parte”, disse. Citando como exemplo  imóveis de  propriedade estatal que não são recuperados, como o prédio  dos Correios  e de um imóvel estadual cedido ao Centro Público de  Economia Solidária   da Bahia (Cesol). Cidreira invocou um termo de  cooperação técnica de  2003 - firmado por Companhia de Docas do Estado da  Bahia (Codeba), da  Secretaria Especial de Portos do Governo Federal,  Governo do Estado,  Prefeitura e Associação Comercial da Bahia - para  reforçar a visão de  que todos os entes têm responsabilidade.
  
 Masterplan  - Em 2005, continua ele, prefeitura e Codeba  firmaram uma parceria de  R$ 600 mil para a elaboração de um masterplan  para a requalificação do  Comércio. Vencedoras da licitação, a carioca  Concremat e a candanga  TCBR chegaram a iniciar o estudo, mas os  trabalhos foram interrompidos  pelo não pagamento da contraparte da  Codeba. Desde a criação do  escritório, em 2003, foram atraídas cerca de  mil 
micro, pequenas e médias empresas, a exemplo de 270 escritórios de advocacia.  
 
 O   chefe do escritório de Revitalização observou que o Terminal  Marítimo  de Cruzeiros Turísticos é um projeto de um órgão federal – a  Companhia  de Docas do Estado da Bahia (Codeba) – que está na dependência  de aval  de outra instituição federal, o Iphan. “A licitação já está na  rua há  20 dias e está ameaçada de ser cancelada pelo Ministério Público  por  falta de aprovação do Iphan”, denunciou Cidreira.  
  
 O  pedido foi enviado em junho. Iniciativa constante da preparação  para a  Copa do Mundo de 2014, o Terminal de Cruzeiros servirá de suporte   essencial para navios que funcionarão como hotel durante o torneio   esportivo. A obra, uma articulação entre as três esferas de poder, prevê   investimentos de R$ 36 milhões.
  
   “Já negociei  este projeto com sete superintendentes da Codeba  diferentes. Sempre  que um novo superintendente assume, começa-se tudo do  zero”, desabafou.  
 O Terminal Marítimo vai possibilitar uma maior visualização   da Baía de Todos os Santos, em razão da retirada dos armazéns 1 e 2, e   agrupará num prédio de três andares todos os órgãos envolvidos no   recpetivo do 
turista. 
 
 O importante Projeto Puerto Madero está travado
  
 Sobre  o projeto inspirado no Puerto Madero, Marcos Cidreira  relata que caso  os oito armazéns do porto forem cedidos, há empresários  brasileiros,  italianos, ingleses e franceses dispostos a aplicar US$ 1  bilhão nos  equipamentos. No local, o projeto pensado para a Prefeitura  de Salvador  prevê a ocupação do térreo com lojas e restaurantes,  escritórios  seriam distribuídos pelo primeiro andar, enquanto do segundo  andar em  diante se instalariam hotéis e apart hotéis (moradia ou 
hotelaria). 
 
 “No  Porto Maravilha, no Rio de Janeiro, foram investidos R$ 3,4  bilhões.  Aqui teremos 1% (R$ 36 milhões no terminal turístico)”,  lamentou. Em  Lisboa, o investimento captado foi de 1,2 bilhão de euros,  segundo o  gestor. 
  
 O chefe do escritório de Revitalização  assegura que uma cessão à  iniciativa privada por 20 anos de dois  armazéns geraria mais recursos do  que rende atualmente o aluguel dos  oito equipamentos. “Utiliza-se uma  das áreas mais valorizadas da cidade  para guardar uma carga que pode ir  para Porto Seco Pirajá”, sugere  Cidreira. 
  
 Tombamento de ruínas só prejudica
  
 Em  8 de junho deste ano, o Instituto do Patrimônio Histórico tombou  todo o  conjunto arquitetônico e urbanístico da Cidade Baixa na condição  de  Patrimônio Cultural. Conforme informado pela Tribuna em julho do ano   passado, a medida obrigou que toda e qualquer obra na área só pode ser   realizada após o aval do órgão de preservação do patrimônio. “Tombou-se   ruínas”, reclamou Cidreira, em alusão ao estado de conservação de  grande  parte dos imóveis históricos, alguns até com escoramento de  alumínio,  sob ameaça de desabamento.
  
 O gestor  municipal reclama que a medida foi “unilateral, sem ouvir a  prefeitura e  sem participação da população, e aconteceu quando no  bairro estava em  curso um processo de requalificação”.  À época, o Iphan  alegou que a  portaria 53/2011, assinada pela ministra da Cultura, Ana  de Holanda,  apenas homologou um tombamento parcial de 2009. Cidreira  relata ter  intermediado, ao longo dos sete anos à frente do Escritório  de  Revatilização, a venda de 50 casarios ou sobrados históricos. 
  
 “Os  compradores pagaram o sinal, contrataram arquitetos para fazer o   projeto e submetê-lo ao Iphan, mas ou não obtiveram resposta ou ela é   negativa”, disse. Também aguarda parecer do órgão do patrimônio   histórico a requalificação do calçamento de 40 quadras e 90 ruas. 
  
 A  questão do estacionamento é outra preocupação do chefe do  Escritório  de Revitalização. Segundo o representante da prefeitura,  havia dois  estacionamentos disponíveis, ao lado do Mercado Modelo e em  frente ao  Mercado do Ouro. Os dois locais estariam sendo administrados  pela  Gerência do Patrimônio da União, sem abertura ao público da área,  que  praticamente conta apenas com as vagas na região da Conceição da  Praia.  
  
 Um projeto foi solicitado por Cidreira à  Fundação Mário Leal  Ferreira, da Secretaria do Planejamento da  Prefeitura, visando a  construção de um edifíci-garagem para seis mil  vagas, na região antes da  subida para o Túnel Américo Simas. “O  estacionamento serve para o  Comércio e, na Copa, para quem for ver os  jogos. 
  
 Pode-se providenciar um traslado  especial nos jogos. Dos  estacionamento para a Fonte Nova (o  deslocamento) será de 5 minutos”,  prometeu. “O projeto que a gente tem é  grande e fácil, por que a  iniciativa privada tem interesse. O que o  poder público autorizar, a  iniciativa privada investe”, concluiu.
 
 Publicada:     07/12/2011 00:51|