terça-feira, 29 de janeiro de 2008

CRÔNICA DE UM CARNAVAL NA CIDADE VELHA

Do dia 25 ao dia 27 de janeiro, a Praça do Carmo foi palco de um “Puxirum”. A proposta de construção e disseminação de uma lógica cultural de afirmação da nossa identidade, em condições de desvelar às novas gerações a pluralidade sonora, rítmica, cromático-visual, sociocultural e a singularidade dos carnavais de fora de Belém, foi uma boa idéia. Tivemos a oportunidade de conhecer blocos de outros Municípios do Pará e de descobrir como o carnaval é vivido longe da capital.

Na Praça da Sé, em vez, um palco armado defronte da FUMBEL, animava com sua bandinha, todos os domingos, quem estava esperando a passagem dos foliões. Sem nenhum aviso chegavam blocos carnavalescos e se apresentavam no palco divertindo todos. Estes, do modo tradicional: cantavam as velhas marchinhas e estavam fantasiados como bem entendiam, ou seja, cada um dum jeito. Eram blocos formados por associações e por famílias da Cidade Velha e de outros bairros também. Senhoras e senhores, de todas as idades, aproveitavam o intervalo entre um bloco e outro, para cantar e dançar no meio da rua.

A parte o Puxirum, tratou-se, portanto, de um carnaval espontâneo: as pessoas queriam se divertir. Ficou claro essa vontade de brincar “à antiga” (que está cada vez aumentando mais) e que a Cidade Velha é um ponto referencial para todos.

Na Praça do Carmo, porém, algo foi diferente. A partir do dia 30 de dezembro, quando o Kaveira deu o “primeiro” grito de carnaval de 2008 (em 2007), a praça do Carmo viu, também, passar vários blocos carnavalescos. O do Eloi Iglesias, porém, marcou presença fixa todos os domingos, enchendo parte da Praça.

Qual é o outro lado dessa medalha? Quem mora na Praça e nos arredores o que viu nesse período? Para iniciar, uma procissão matinal de vendedores ambulantes com seus “isopor”, carrinhos, barracas, mesas, cadeiras, etc., se dirigirem para a Praça. A medida que passavam os domingos, essa procissão aumentava. Instalavam seus meios de trabalho em todo canto: calçada, grama e rua. Enquanto os outros pensavam em se divertir, estes pensavam em trabalhar: ganhar o seu pão de cada dia... sem nenhuma fiscalização ou organização.

No domingo, ao meio dia os ambulantes já ocupavam os pontos “nobres” da praça. Calçadas para os pedestres-foliões, quase nenhuma. Pouco a pouco, fios elétricos foram ”instalados” diretamente dos postes nas barraquinhas. Vans, camionetes e táxis traziam reforço. Eletrodomésticos, com os fios desencapados, desfilavam um atrás do outro em direção das barraquinhas onde tinham sido feitas as ”instalações elétricas”. A chuva não parava: será que não tinha risco de curto circuito? Fiscais? Ninguém viu.

O mesmo diga-se das ruas: os automóveis estacionados ficavam bloqueados a causa da quantidade de ambulantes. Até a Policia tinha dificuldade de passar. Ao pedir providencias para evitar o fechamento das ruas com filas duplas de carros, tivemos como resposta: “estamos aqui para separar brigas, no caso houverem”... e ficou tudo por isso mesmo.

No domingo 27, o anfiteatro, a causa da chuva, parecia uma piscina, mas isso não impedia aos foliões de continuar a dançar. As valas ao seu redor, transbordavam de água lamacenta. Os banheiros instalados pareciam “virtuais”: as mangueiras, os muros e as portas das casas continuavam a ser usadas para as necessidades físicas dos presentes. Os ônibus que trouxeram os blocos para o Puxirum, estacionaram na Dr. Assis, atrapalhando o já difícil transito dessa rua.

A chuva aumentava e o numero de foliões também. Todos queriam brincar, ou atrapalhar, de qualquer jeito. Nada a ver também com o carnaval, os carros com musica tecno, altíssima, em quase todos os cantos da praça. Alguns casais hetero-sexuais e não, muitos dos quais bem jovens, aproveitavam para exagerar quanto à moralidade (ou imoralidade). Enquanto isso, crianças trabalhavam, recolhendo latinhas.

Reclamações de todo tipo começaram a serem feitas a partir do segundo domingo. Até pedido de um abaixo assinado para proibir o carnaval na Cidade Velha, chegou. Isso a causa dos vários transtornos causados por uma total falta de organização e por muita falta de educação.

Somos da opinião que o carnaval continue na Cidade Velha e que seja incentivado pela administração pública, porém, de uma forma que não traga maiores problemas para o bairro. Os blocos divertem também quem está nas janelas ou portas de suas casas. Devem, portanto, circular pelas ruas e praças, não necessariamente ficarem estacionados em algum lugar. É exatamente este fato que gera problemas porque atrai, além dos foliões – que são bem-vindos -, ambulantes e veículos que não tem onde estacionar e também os mal intencionados, de todos os gêneros.

Choveram muitas propostas: padronizar barracas para os ambulantes; determinar os locais onde devem ser instaladas; exigir a presença somente daqueles regularizados; permitir somente ambulantes da Cidade Velha; fechar a praça impedindo a circulação de veículos; pedir a presença de fiscais da SECOM e CTBEL; etc., etc., etc.

Acreditamos seja oportuno estudar essas propostas, afinal de contas quem vive o bairro o ano inteiro, são os moradores. Depois do carnaval, vai ter a quadra junina, o Círio e quem sabe quantas outras manifestações... provocando os mesmos problemas.

Seria o caso de começar a pensar como evitar que isso se repita.


Dulce Rosa de Bacelar Rocque
Presidente CiVViva

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