sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

PREOCUPAÇÃO


Quando aconteceu o golpe aqui no Brasil, em 1964, uma das primeiras leis a serem revogadas foi aquela relativa a campanha de alfabetização dirigida por Paulo Freire e promovida pelo governo de João Goulart... e seus colaboradores ainda foram presos. Aprender a ler era perigoso, pois poderiam descobrir, inclusive, seus direitos. 

É gravissima, portanto, essa tendência de desmonte da escola pública. Aí mesmo que as leis vão ser ignoradas. Isso é muito preocupante, visto que bem poucos já as conhecem, e quase nenhum politico as aplica.

Quem nos governa, mesmo se não estudaram na escola pública, desconhecem as leis, e ao ignorá-las, só continuam a demonstrar desinteresse pela Constituição que restaurou nossa Democracia. Com esse comportamento dão um péssimo exemplo ao cidadão, deseducando-os...e aqui chega a competência e até dever dos professores... a quem pedimos a atenção.

As nossas leis são totalmente desconhecidas, e muito menos apllicadas. Parabéns portanto aos "indios" que estão dando lição de Direito, ao pretender o respeito das leis. 

Cidadania é o exercício de direitos e a cobrança de  deveres de cada um e de todos. Importante portanto conhecer as leis para poder apoiar-se nelas no momento da falta de respeito para conosco.

A colaboração da cidadania é algo imortante  previsto na nossa Constituição, pois, preocupando-se com nossa memória histórica, já inclui algo a respeito no seu art.216.

V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

§ 1º O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.

Temos ainda o at. 216.A, que, ao tratar do  Sistema Nacional de Cultura, volta a questão da :

X - democratização dos processos decisórios com participação e controle social; Incluído pela Emenda Constitucional nº 71, de 2012.

Quem ignora essas normas, vai pagar multa?

Estão caindo sobre nossas cabeças, uma série de decisões, impostas com prepotência, apesar da Lei Orgânica do Município (30.03.1990) aprofundar uma determinação indicando como fazer isso,  no ...

- art. 108: O Município promoverá o desenvolvimento fundado na valorização...e no

II- estimulo à participação da comunidade através de suas organizações representativas...

Quem aplicou esta norma, estes dias? O fato de tê-la ignorado é uma vantagem para quem?

O ESTATUTO DA CIDADE (lei n. 10.257/2001) que regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelecendo as diretrizes gerais da política urbana, é,  por sua vez, outra norma desatendida, visto o que prevê no

- art, 2, inciso II:  gestão democrática por meio da participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano;

Alguém aplicou essa norma? Quem cobra o respeito delas?

Depois dessa introdução, temos outras leis, locais, como o Código de Posturas,  que aprofundam e detalham o tratamento das calçadas (art. 30), redução da poluição (art 63), tranquilidade publica (art.79), preservação do sossego público (art. 80), distância de igrejas, escolas, hospitais... etc. etc. etc.  Enfim, trata de argumentos que interessam o nosso dia-a-dia.

Essa e outras normas são totalmente ignoradas, apesar de estarem em vigor... mas não se sabe aonde elas funcionam.

Os professores podiam muito bem começar a abrir os olhos dos estudantes sobre a  existência de normas que dirigem e orientam os comportamentos que devemos ter seja como cidadãos que, como politicos e funcionários públicos. Vários são os artigos da Constituição que chamam em causa os cidadãos à participação dos  momentos decisórios  e de controle social.

AS LEIS DEVEM SER SEGUIDAS E RESPEITADAS POR  TODOS NÓS... 

SEM EXCEÇÃO... precisamos só conhecê-las.                                      

SENHORES PROFESSORES DE TODOS OS NÍVEIS, NÃO SERIA O CASO DE COMEÇAR A ENSINAR A LER AS LEIS?  SERIA UMA GRANDE AJUDA NA FORMAÇÃO DE NOSSOS CIDADÃOS.



sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

CURUPIRA, A MÃE DO MATO


ou...O CURUPIRA, GUARDIÃO DA FLORA E DA FAUNA 

É interessante que geralmente se use o artigo definido masculino “o” para referir-se a este fantástico ente das florestas a quem se empresta justamente o atributo feminino da maternidade. Realmente, no interior amazônida, não se referem a este ser como se fora mulher: é sempre “o Curupira”, mas no entanto, lhe é reconhecida de maneira generalizada a proteção da flora e da fauna sob o nome genérico e extensivo de “Mãe do Mato”.

Descrito como sendo um pequeno ser com traços índios, segundo alguns, com os pés virados para trás, cor escura, o Curupira possui o dom de ficar invisível.

Guardião das florestas e dos animais, é, entretanto, protetor daqueles que sabem se relacionar com a natureza, utilizando-a apenas para a sua sobrevivência, ou seja, o homem que derruba árvores para construir sua casa e seus utensílios, ou ainda para fazer o seu roçado e caça apenas para alimentar-se, tem a proteção do Curupira. Aqueles que derrubam a mata sem necessidade, os que maltratam plantas e animais, os que caçam por pura perversidade, estes têm no Curupira um terrível inimigo.

Dizem que o Curupira faz o mau caçador perder a noção de seu rumo e ficar dando voltas no mato, retornando sempre ao mesmo lugar.

Outra forma de atingir o malvado é fazendo com que sua arma (arco e flecha, lança ou arma de fogo) fique “panema”, ou seja, azarada, e, portanto, incapaz de acertar qualquer tipo de alvo, principalmente a caça.

Como se vê, o Curupira – a Mãe do Mato – é, acima de tudo, em tempos atuais, uma entidade ecologicamente 
correta...


Atila Monteiro  (*)

Cultura amazonica.
Visagens, Assombrações de Belém e Amazônia. 
Mitos do Folclore Regional:Matinta-Perera, Boto,  Curupira,  Cobra-Grande,  Iara,  Mapinguari e Lobisomem

(*)Atila Monteiro é filho do nosso carissimo escritor Walcyr Monteiroo, "salvador" da nossa memoria cultural,  escrevendo o que conseguiu sobre os Mitos do nosso folclore... e muito mais.

A versão para a COP30 ainda vai ser desenhada... esta foto é de Celso Costa: rede Amazonica
versão para a COP 30 ainda será desenhada — Foto: Celso Costa/Rede Amazônica
versão para a COP 30 ainda será desenhada — Foto: Celso Costa/Rede Amazônica

sábado, 11 de janeiro de 2025

O QUE FESTEJAR?

 

Dia 11 de janeiro de 2007, fomos a um cartório registrar a CIVVIVA. Nascia um sonho...

Moradores, comerciantes estabelecidos e amigos da CIDADE VELHA , todos de acordo com a necessidade de defender os interesses do bairro mais antigo da cidade de Belém, uniram-se e fundaram a Associação Cidade Velha-Cidade Viva (CiVViva). A intenção era buscar melhorias para a comunidade.  

A defesa da nossa memória histórica era também uma parte importante da nossa presença no território. Iniciamos portanto tendo como  referência para nossas lutas  a salvaguarda, defesa e proteção das praças, prédios e calçadas da Cidade Velha, situados na área tombada do Centro Histórico.

 Essa ideia representava um desafio para os associados, que, com a nota abaixo, relacionaram alguns problemas com os quais conviviam. https://civviva-cidadevelha-cidadeviva.blogspot.com/2007/10/carta-aberta-da-cidade-velha-cidade.html

Dezenove anos se passaram e as lutas não pararam. Muitos dos fundadores se afastaram em poucos anos, ao verem que bem pouco conseguíamos obter, independentemente de quem nos governava. Pouco a pouco descobrimos que, salvar do abandono a Cidade Velha, concretamente, não interessava a ninguém, só ao arquiteto Paulo Chaves que aproveitou para modificar a nossa memória histórica, embelezando-a.  Parou porém de insistir, contra vontade,  em continuar mudando nossa memória histórica, quando pensou em fazer um shopping, naquela área  do Bechara Mattar, incendiada, esquecendo de propor estacionamento para os clientes... e nós o atrapalhamos.

Com nome de Shopping de Charme ou Bichara Mattar Diamond, lançou um projeto onde víamos até uma praça suspensa e um restaurante no teto do prédio, com vista para a Baia de Guajará, esquecendo,tambéem, de respeitar o “gabarito” previsto para aquela área.

O IPHAN tinha acabado de tombar parte da Cidade Velha, mas nem isso o impedia de tentar.  A população se rebelou e com a Civviva em testa, começaram os protestos.... Esta nota esclareceu muitas coisas https://civviva-cidadevelha-cidadeviva.blogspot.com/2013/10/a-audiencia-sobre-o-uso-do-bechara.html  ... e acabamos vencendo.

Outra tentativa de modificar a Cidade Velha surge com o fechamento de mais uma janela ou porta que dava para o rio... Tratava-se da travessa Felix Rocque...e notamos isso em outubro de 2013.

 Para defender a abertura de tal travessa , formou-se o Movimento Orla Livre. Descobrimos, no meio tempo, que os pareceres dados entravam em conflito, pois o posicionamento do IPHAN e da SEURB, que indicavam a necessidade de ajustes, contradiziam totalmente a vistoria técnica executada pela FUMBEL, em 12/04/2013 .

Em maio de 2015, ainda aguardávamos solução... fizemos então algumas perguntas ao MP... https://civviva-cidadevelha-cidadeviva.blogspot.com/2015/05/o-que-mandamos-ao-mpe-sobre-tv-felix.html

Enfim, depois de muita discussão a obra foi interrompida umas 13 vezes, até que o MPE encontra uma solução. A rua não foi fechada. Mais uma luta vitoriosa, mas os abusos não paravam de acontecer. A CELPA provocou a nossa atenção ao colocar, no inicio de 2014, contadores de luz, absurdos, nas casas da área tombada.

Ainda estávamos lutando contra a “implantação de um shopping no Centro Histórico de Belém (Bechara Mattar)”, e  iniciamos outra luta, em defesa da nossa memória histórica  quando uma manhã acordamos com a frente de uma casa, na Dr. Malcher, coberta de medidores de energia, descomunais... https://civviva-cidadevelha-cidadeviva.blogspot.com/2014/05/os-medidores-rejeitados.html

Demorou mas conseguimos, com a determinação do IPHAN, que a CELPA retirasse a maior parte deles imediatamente. Voltamos a luta contra a Celpa, mais tarde, pois ainda faltavam alguns a serem retirados. Nos pediram o endereço deles e mandamos...

Pensavamos ter encerrado essa luta, mas a Equatorial surgiu nas nossas vidas e ignorou a decisão da CELPA e recomeçou a colocar esses opróbrios, novamente nas casas da área tombada da Cidade Velha. Pedimos providências ao IPHAN, mas só vemos aumentar, mesmo em 2025,  esses medidores com, ao lado escrito: “atenção pode dar choque”.

Não vamos continuar a falar do que fizemos,  mas do que não conseguimos mudar. Tinhamos acumulado experiência e andavamos com as leis embaaixo dos braço. A maior dificuldade que encontramos até hoje é, exatamente, o respeito das leis em vigor por quem deve gesti-las. Exemplo permanente: poluição sonora

Nesses anos de luta nos vem a dúvida que, bem poucos funcionários públicos conheçam as leis...e/ou, como aplica-las. Então? Cada tentativa de obter o respeito das normas em vigor é uma batalha, uma guerra contra a prepotência de quem não sabe, ou,  não quer usar a democracia que conquistamos (alguns de nós lutaram por isso)... e a falta de fiscalização, que se protrai há anos, ajuda essa situação de ilegalidade. Será que alguem verificou se si trta de improbidade administrativa?

O fato é que a insistencia da CIVVIVA em defender as leis, levou quem "comanda" a retira-la de todos os Conselhos do Patrimônio, existentes em Belém, e cancela-la também das reuniões que podiam interessar a Cidade Velha. 

Vimos assim se desenvolver e crescer,  em todos os setores da nossa sociedade o comportamento, de alguns "reizinhos", feudatários de algum setor, os  quais pensam que todos somos ignorantes e/ou coniventes e que não existam cidadãos conscientes de seus deveres e direitos dispostos a continuar essa luta pela aplicação do que prevê a normativa  em vigor. 

Passaram-se já, mais de 30 anos do fim da ditadura, mas alguns comportamentos "saudosos" continuam a fazer mal a sociedade, que, muitas vezes, surda, muda, ou distraída com tanta festa, nem sempre se apercebe o quanto isso é perigoso.

 

Nós da CIVVIVA não cansamos, apenas envelhecemos... com uma tristeza que aumenta ao ver o quanto os governantes que elegemos, querem continuar, como no tempo da ditadura, ignorando a legalidade... “amamentando” com esse comportamento a incivilidade ... e não somente..., do nosso povo.

QUERIAMOS COMEMORAR O ANIVERSÁRIO DA CIVVIVA E DE BELÉM COM EXCLAMAÇÕES DE ALEGRIA, AO MENOS RELATIVAMENTE A LUTA CONTRA A POLUIÇÃO SONORA... mas pela publicidade que vemos, isso não acontecerá. Muito dos anseios dos cidadãos, escorrem pelos bueiros, já cheios de outros problemas não resolvidos... e a mídia, cala sobre o que importa, e chama o povo a vir fazer ’tremer a Cidade Velha”.

Cadê os defensores do patrimônio histórico e ... da Constituição?

QUE TRISTEZA ESSES ANIVERSÁRIOS...


quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

PRESENTE DE REIS

 ... ou de uma mulher de hoje kkkkkk

ARTIGOS MAIS LIDOS EM 2024 NOS NOSSOS BLOGS. 

Os leitores de cada nota citada abaixo, variaram de cem ( 100) a quinhentas (500) pessoas.

Agradecemos, e esperamos tenham servido a algo...

 

" CIVVIVA Cidade Velha - Cidade Viva "

18.03.24  https://civviva-cidadevelha-cidadeviva.blogspot.com/2024/03/carta-ao-prefeito-de-belem.html   ...sobre poluição sonora em frente a igrejas, ou inconstitucionalidade da lei de 2000 do prefeito Edmildon.

l0.04.24  https://civviva-cidadevelha-cidadeviva.blogspot.com/2024/04/carta-aberta-quem-estuda-poluicao-sonora.html   ou seja os ruídos e as vibrações mecânicas.

02.06.24   https://civviva-cidadevelha-cidadeviva.blogspot.com/2024/06/carta-aberta-da-civviva.html  À quem é sensivel a defesa do nosso patrimônio histórico.

23.06.24   https://civviva-cidadevelha-cidadeviva.blogspot.com/2024/06/programacao-o-que-e-isso.html  inauguração do local NaBera...

23.09.24 https://civviva-cidadevelha-cidadeviva.blogspot.com/2024/09/nosso-patrimonio-esthistorico-e-os.html   patrimônio histórico: precisa conhecer para preservar

10.10.24 https://civvivelhava-cidadevelha-cidadeviva.blogspot.com/2024/10/que-vergonha.html  facínoras na Cidade Velha.

21.10.24  https://civviva-cidadevelha-cidadeviva.blogspot.com/2024/10/horizonte-curto.html  quem não vê nada além do próprio umbigo.

11.12.24  https://civviva-cidadevelha-cidadeviva.blogspot.com/2024/12/carta-aberta-nubank-petrobras-minc.html  ... financiadores do festival Psica em área tombada.


 LABORATORIO DE DEMOCRACIA URBANA”.

17.01.24 https://laboratoriodemocraciaurbana.blogspot.com/2024/01/os-arquitetos-mais-serios-com-certeza.html  “Adquirindo mais experiencia”

09.02.24 https://laboratoriodemocraciaurbana.blogspot.com/2024/02/iphan-alepa-mpf-e-interpretacoes.html ... Interpretações conflitantes.

23.04.24  https://laboratoriodemocraciaurbana.blogspot.com/2024/04/meritos-inclusive-da-civviva.html  MÉRITOS,  inclusive da CIVVIVA

29.04.24 https://laboratoriodemocraciaurbana.blogspot.com/2024/04/atencao-srs-democratas.html  Atenção senhores democratas.

12.05.24 https://laboratoriodemocraciaurbana.blogspot.com/2024/05/o-valor-da-informacao.html    O valor da informação.

14.05.24  https://laboratoriodemocraciaurbana.blogspot.com/2024/05/testemunho-da-edilza.html   Testemunho da Edilza.

04.09.24  https://laboratoriodemocraciaurbana.blogspot.com/2024/09/questao-de-seriedade.html   Questão de seriedade.

12.12.24 https://laboratoriodemocraciaurbana.blogspot.com/2024/12/um-agouro-ou-um-trist-pressagio.html  Parece que tem urubú no pedaço ...

Estas duas notas abaixo,  de 2023 se  completam.

16.12.23   https://civviva-cidadevelha-cidadeviva.blogspot.com/2023/12/quem-autorizou-isso.html

25.12.23  https://civviva-cidadevelha-cidadeviva.blogspot.com/2023/12/ate.html

...  Nós continuamos, apesar  de tudo e de todos... os que nos são contrários.


segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

PARA NÃO ESQUECER – 06 DE JANEIRO DE 1835

 

CABANAGEM

(Ernesto Germano Parés)


A revolta conhecida como Cabanagem foi, de todos os movimentos da população no início do Império, o que alcançou maior grau de radicalização. Tanto pelo fato de as propostas das lideranças do movimento serem bastante avançadas para a época como também por terem conseguido tomar o poder na província e mantê-lo por algum tempo, realizando mudanças sociais profundas.

A província do Grão-Pará vivia um período agitado e mesmo antes da Independência já se tinha notícias de numerosos pequenos levantes. A população vivia em constantes lutas contra a classe dominante fiel a Portugal. O cônego Batista de Campos (“Pau Bento”) era o líder local e comandava o povo na luta pela independência e por direitos sociais.
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Em 1823, no auge das lutas pela Independência, o povo paraense recebeu a notícia de que uma esquadra inglesa, comandada pelo almirante Cochrane, estava se dirigindo àquela província para ajudar nas lutas contra a dominação portuguesa. O povo, eufórico, não esperou que a junta nomeada pelo novo Imperador assumisse a direção do movimento e invadiu o palácio do governador declarando a Independência na província, colocando no poder líderes populares.
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A classe dominante não podia aceitar esse tipo de atitude da população e a repressão foi imediata. Por ordem do Imperador, o comandante do navio Maranhão enviou tropas para prender Batista de Campos. Dezenas de nativos foram fuzilados imediatamente e cerca de 300 dos principais revoltosos foram aprisionados. Foram trancados no porão do navio, com todas as escotilhas fechadas, e sobre eles atiraram cal virgem. Dois dias depois, quando abriram o porão do navio, só havia cadáveres para serem jogados ao mar.
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Ainda assim, feito o massacre, a classe dominante não tinha tranquilidade. Um documento da junta governativa nomeada pelo Imperador dizia:
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“Sentimos não poder afirmar que a tranquilidade está inteiramente restabelecida, porque ainda temos a temer principalmente a gente de cor, pois que muitos negros e mulatos foram vistos no saque de envolta com os soldados, e os infelizes que se mataram a bordo do navio, entre outras vozes sediciosas deram vivas ao rei do Congo, o que faz supor alguma combinação de negros e soldados.”
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O temor da junta governativa se confirmou. A província do Grão-Pará sempre fora intranquila e com vários movimentos organizados na camada mais baixa da população. Tanto na capital como no interior da província, eram comuns as notícias de levantes populares que uniam negros e mulatos a soldados da tropa imperial que estavam descontentes com o soldo e com as ordens vindas do poder imperial e de autoridades locais que os colocavam contra suas próprias famílias.
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Devemos lembrar que a economia local estava baseada nas chamadas “drogas do sertão”, de difícil exploração, e na pesca. Toda a mão de obra era composta por negros escravos, mestiços e alguns indígenas retirados das suas tribos e submetidos à semiescravidão. *
Depois da Abdicação de D. Pedro, as lutas políticas dividiram a classe dominante na região. De um lado estavam os comerciantes de Belém que defendiam uma política centralizada e ainda tinham simpatia pela corte lusitana, do outro lado estavam os senhores de terras que, mesmo em menor número, faziam oposição ao primeiro grupo e eram contra a centralização do poder.
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Sendo numericamente menor, a oposição convocou a população para combater as ideias centralizadoras dos comerciantes de Belém e do Governo imperial. E foi essa massa popular, liderada por Batista de Campos, que deu às lutas um sentido mais amplo e radical. *
Em 1833, o presidente nomeado da província (Bernardo Lobo de Souza) consegue finalmente assumir o governo e passa a perseguir, prendendo e deportando, todos os suspeitos de participação em levantes populares. No mesmo ano morre Batista de Campos e surgem novas lideranças locais. Os irmãos Vinagre (Antônio e Francisco), lavradores, e o seringueiro Eduardo Angelim mantinham o caráter popular das lutas e movimentavam o interior e a capital da província.
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Em 1835, os cabanos (nome dado ao movimento lembrando as residências de imensa parte da população) ocupam a cidade de Belém e tomam o poder. O governo é entregue a um fazendeiro da região – Antônio Malcher – que começa a ficar preocupado com os rumos da revolta e procura aliança com o governo Imperial no Rio de Janeiro. A população não aceita traição e Malcher é deposto e executado.
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O segundo presidente nomeado pelos “cabanos” foi Francisco Vinagre que também não tem coragem de assumir as propostas muito avançadas do movimento e tenta conciliar com o governo do Rio de Janeiro. Vinagre ajuda as tropas enviadas pela regência, em navios comandados por um almirante inglês (Taylor), e procura “pacificar” a província.
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Os cabanos retiram-se para o interior e conseguem mobilizar a população rural. Reforçados, voltam a atacar a capital e assumir o poder.
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Também dessa vez, a vitória foi temporária. Os cabanos, apesar da coragem e determinação em realizar mudanças sociais mais profundas, não tinham um plano elaborado, sistematizado, para quando chegassem ao poder. Não tinham uma teoria nem uma ideia de partido político capazes de tornar possível a implantação de suas ideias revolucionárias. Conseguiam se organizar para tomar o poder, mas, depois, agiam por “espontaneísmos” e deixam se envolver por disputas internas.
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Novas forças militares são enviadas do Rio de Janeiro, em 1836, para combater os cabanos que abandonam a capital e fogem para o interior onde ainda resistem por três anos.
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Ao final da Cabanagem, o mais radical de todos os movimentos do período e o único onde a classe mais explorada conseguiu assumir o poder em toda uma província, ficou um registro que mostra a determinação daquele povo. Calcula-se que de 30 a 40% de uma população estimada de cem mil habitantes morreu. Em 1833, o Grão-Pará tinha 119 877 habitantes; 32 751 eram índios e 29 977, negros escravos. A maioria mestiça (miscigenação de índios, negros e brancos) chegava a 42 mil. A minoria totalizava quinze mil brancos, dos quais mais da metade eram portugueses.
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O historiador Caio Prado Júnior afirma que a cabanagem foi uma das mais importantes revoltas populares da história do Brasil. Isso porque, segundo ele, a população pobre chegou efetivamente ao poder da província.
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Em homenagem ao movimento Cabano, foi erguido um monumento projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, na entrada da cidade de Belém: o Memorial da Cabanagem.
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Isso não é ensinado para nossas crianças na escola. E ainda há idiotas que dizem que “o povo brasileiro é pacífico e nunca se rebelou”. Mas é por isso que escondem a nossa história. Por isso os livros usados nas escolas escondem esses fatos.
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VIVA O POVO QUE LUTA!
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TODO O NOSSO SENTIMENTO COM OS CABANOS!
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Nas imagens: 01) a região conhecida como “Grão Pará”, na época (para se ter ideia da dimensão da luta); 02) os cabanos enfrentam as tropas imperiais; 03) memorial de Oscar Niemeyer