terça-feira, 1 de junho de 2021

SAUDANDO OS ARQUITETOS...

...QUE NOS DEIXARAM, principalmente

O arquiteto Jorge Derenji e o Parque Zoobotânico do Museu Goeldi  01-06-2021

Antonio Carlos Lobo Soares*


Não bastasse a perda recente dos arquitetos Paulo Cal e Paulo Chaves Fernandes, neste maio de 2021 a arquitetura brasileira ficou ainda mais pobre sem a presença dos arquitetos Carlos Magalhães (88), Paulo Mendes da Rocha (92), Jaime Lerner (83) e Jorge Derenji (85). Como os três primeiros foram saudados a nível nacional, faço coro aos arquitetos paraenses que homenagearam o professor Derenji.

Jorge Derenji era gaúcho, profissional liberal, professor, participou da equipe de arquitetos que implantou o curso de arquitetura da UFPa e foi o primeiro diretor na região norte da Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - SPHAN, hoje IPHAN. Além do que os colegas escreveram a seu respeito, para mim, Derenji foi um professor que tinha na capacidade de ouvir o outro uma de suas maiores qualidades.

Era de sua autoria o projeto de um pórtico construído na entrada principal do Parque Zoobotânico (PZB) do Museu Goeldi, em Belém do Pará, que na década de 80 foi demolido para dar lugar a uma réplica da entrada do início do século XX. Sua contribuição ao PZB, entretanto, foi além da autoria deste projeto. 

Na década de 80, ainda em conseqüência do financiamento pelo BNH da casa própria para a classe média, houve continuidade à expansão da verticalização ao longo das avenidas Nazaré e Magalhães Barata, com a construção de novos prédios no entorno do PZB. Nessa década, os efeitos da Primeira Conferência da ONU sobre meio Ambiente, em Estocolmo, de 1972; o relatório da Comissão Mundial de Meio Ambiente, de 1987; as discussões que antecederam a constituição brasileira de 1988; e os preparativos para a segunda Conferência da ONU sobre meio ambiente realizada no Rio de Janeiro em 1992 começavam a ser sentidos, e geravam manifestações públicas em favor da preservação do meio ambiente.

Em 1988, com a construção de dois edifícios no entorno do PZB, funcionários do Museu Goeldi lideraram um movimento que visava à sua preservação e teve como auge um “grande abraço” dado ao PZB em 21/05/1989 por um grupo de pessoas. Evento divulgado em programa televisivo de grande audiência nacional. 

Derenji dirigia a 1ª DR do SPHAN na Região Norte quando fora instado, por ações civis públicas e particulares, a se manifestar sobre o conflito envolvendo construtoras, "preservacionistas", o PZB e seu entorno. Àquela altura, só as coleções científicas do Museu Goeldi eram tombadas como patrimônio nacional.

Derenji ouviu as partes envolvidas, exercitou sua capacidade conciliadora, que muita falta faz aos homens públicos de hoje, e emitiu um PARECER, datado de 19 de julho de 1989, que serviu de base ao tombamento do PZB e cessou as possibilidades de interferência da verticalização no PZB, por sombreamento e/ou ventilação. 

Com força de Lei, este parecer é utilizado pelos funcionários mais experientes do Museu Goeldi, sempre que um novo empreendimento é anunciado na área de entorno do PZB. Ou seja, sua preservação nestes quase 32 anos, deve-se a um ato do professor Derenji, devidamente contextualizado na dissertação de meu mestrado sobre desenvolvimento e meio ambiente urbano na Universidade da Amazônia.

Ao professor Derenji o meu muito obrigado pelo exemplo!


* Arquiteto PhD, Museólogo e Artista Plástico,

Tecnologista Sênior do Museu Goeldi.

 

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