Valdomiro Gomes, escrevia isto, no dia 5 de agosto do ano 2000: há 22 anos atrás.
Um cidadão, amante de Salinas.
As férias chegaram ao fim, com o
stress aumentado para muitos. Veranistas de Salinas queixam-se, com razão, do
caos da praia do Atalaia. O desfile das formas graciosas foi substituído pelo
desfile das marcas de carros. As saudáveis partidas de frescoball, de vôlei, de
futebol, tiveram que ser canceladas, substituídas pelos shows das poluentes
máquinas. As alegres crianças foram proibidas de correr, brincar, construir
seus castelos nas areias para que ele, SR. carro, pudesse trafegar (desfilar)
ou estacionar (bronzear-se) entre os espremidos sombreiros e espreguiçadeiras.
Leio notícia que o Governo ultima
estudos para duplicar a estrada do Atalaia e fazer uma avenida marginal à
praia. Será verdade ?
Em 1995, pude recomendar aos
administradores públicos o livro de David Osborne e Ted Gaebler Reinventar a
Administração Pública, no qual é proposto que a propriedade e controle das
instituições de serviços públicos passem das mãos de banqueiros e profissionais
do governo para a comunidade e indivíduos.
Nos Estados Unidos existem hoje mais
de um milhão de organizações sem fins lucrativos ativas no setor social,
representando cerca de um décimo do PNB. As referidas organizações já são hoje
as maiores empregadores nos Estados Unidos, orgulho da comunidade, marca da
verdadeira cidadania e o restauro da responsabilidade cívica americana.
Na língua inglesa existe o vocábulo subject : súdito, aquele que está sujeito às leis do reino, obrigado a submeter-se aos deveres que lhe são impostos, mas existe também um vocábulo citizen sujeito de deveres e titular de direitos . É hora do brasileiro deixar de ser sujeito (súdito) para ser cidadão (participativo). Não nos cabe somente reclamar. A hora é de participar.
Será que a população, a comunidade, o
cidadão, não tem outras prioridades ? Será que a iniciativa privada não pode
encontrar a solução para o problema de uma minoria que pode ir à praia de
carro? Será que existe dinheiro público sobrando ?
Como não mais sou menor, não nasci
para ser escravo e desejo continuar sendo cidadão, amante de Salinas, trago,
não a crítica destrutiva, e sim, uma semente, uma sugestão, objetivando motivar
a necessária reflexão, discussão, da comunidade . O futuro de nosso país não
mais pode estar delegado aos burocratas ou aos mandos e desmandos do poder que
ainda não apreendeu a sentir as reais carências de nossa população.
Acredito que a iniciativa privada poderia se interessar por construir e explorar estacionamentos, construídos por traz das dunas, interligados via um sistema de transporte coletivo, também operado pela iniciativa privada, do tipo que é visto no parques da Disney, feiras de exposição, e outros espaços onde o carro é obrigado a ficar longe. O veículo que idealizo seria um trator-trem (o tratorsal) de rodado espacial, permitindo seu tráfego pela areia da praia. O modelo para se tornar solução terá que trazer, entre outros predicados, o tão necessário emprego à população local e não destruir o equilíbrio do meio ambiente.
Um primeiro modelo, visando
a atual descentralização do tráfego da atual rodovia do Atalaia, poderia ser
pensado via criação de um estacionamento na cidade e uma leve ponte
interligando referido estacionamento à ponta esquerda da praia do Atalaia, a
mais bonita e hoje quase inacessível .
E hoje ?
Avelino Vanetta Do Vale, escreve isto em reposta a lembrança de Valdomiro.
Há 22 anos... De lá para cá, em
Salinópolis, tudo piorou. A poluição alastrou-se. Começou pela água da fonte do
Caranã, comprometida pela proximidade das fossas residenciais. E culmina agora
com a poluição das águas da beira-mar pelos dejetos das barracas ao longo da
praia do Atalaia, desprovidas de sistemas de esgoto sanitário e de
abastecimento de água potável. Afora, obviamente, a sujeira na areia da praia.
Como ter tranquilidade entre carros a
circular e permanente poluição sonora? Por mais otimista que se possa ser, é
cada vez mais difícil acreditar em uma solução valorativa de Salinópolis.
Prefeitos têm medo de perder os votos da população local. Governadores se
sucedem e nada de instituirem pelo menos um fórum em que se possa discutir e
encaminhar propostas em prol do bem comum.
O Turismo receptivo no Pará regride, sob
vários aspectos, nas três áreas desde os anos 1980 definidas como prioritárias
para fomento estatal, a costa atlântica, o arquipélago marajoara e o
médio-Amazonas. No Tapajós, o mercúrio dá medo. Santarém já teve um Torneio
Internacional de Pesca do Tucunaré, que ia bem, mas acabou antes de chegar a
ser pouco mais que regional.
A culinária tradicional, com a
extraordinária variedade de peixes e derivados perdeu força de atração, por
causa da mercuriarização do azul ciano, que de tanta lama revirada pelas dragas
nos afluentes das cabeceiras já assustou com mudança de cor. O Tapajós,
sabe-se, é um dos poucis riis azuis do mundo. Com o desgaste na cidade polo,
sofrem os municípios do entorno, o turismo nas pinturas rupestres de Monte
Alegre, em Faro, com a magia da lenda das Amazonas, em Oriximiná, com as
belezas naturais do Trombetas.
O Festival do Çairé (sic) nem se compara ao
Festival de Parintins em presença de turistas sstrangeiros e nacionais. No
Marajó, a imemorial Folia de São Sebastião, até onde sei a mais extensa e mais
original do país, igualmente permanece com o potencial de atração turística
subestimado pelo poder público.
Excelente que o governo do Estado tenha
dado a devida atenção ao Museu do Marajó. Mas Dalcídio Jurandir, o escritor que
nos 10 romances do chamado ciclo do Extremo-Norte, com o registro do fascinante
Falar Amazônico do Norte, é referencial para nós, amazônidas do rio-mar, como
Guimarães Rosa o é para os nordestinos, continua desconhecido da juventude na
terra natal dele, Ponta de Pedras, e em Cachoeira do Arari.
Em Cachoeira, o chalé celebrizado nos
romances iniciais que o projetaram, ao invés de ser transformado em centro
cultural, talvez já nem exista. Museu, folia de santo, literatura não são
vistos pelos governantes como um conjunto, e, como se sabe, uma andorinha só
não faz verão. Ainda bem que temos o Círio de Nossa Senhora de Nazaré. E é
sempre bom lembrar que, graças a Carlos Rocque, temos o Círio em duas versões,
em terra, e nas águas, por ele criado quando foi presidente da Paratur.
De volta a Salinópolis: como era bom quando
não havia a ponte para o Atalaia, onde só se chegava de barco. A beleza era
tanta que em 1968 inspirou o grande pianista belenense Guilherme Coutinho a
compor uma linda canção de título "Atalaia", uma das mais bonitas do
cancioneiro parauara. Na areia do Maçarico, havia conchinhas, pequenas estrelas
do mar e cavalinhos marinhos.
... E TANTA TRISTEZA, TAMBÉM.
DEPOIS DE UMA FESTA
Um comentário:
Valdomiro Gomes e Avelino do Vale se juntaram para nesta postagem nos mostrar uma parcela significativa da decadência do nosso Estado. E o turismo é apenas uma parcela dessa pobreza, pobreza em todos os demais aspectos, econômicos, sociais e culturais. Oh dor...!!!
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