domingo, 22 de agosto de 2021

PRESIDIO S. JOSÉ


 A historia da área deste Patrimônio Histórico do Estado do Pará, não tombado por nenhum dos três orgãos que se interessam de prédios antigos que tem a ver com nossa memória histórica, tem inicio em  1749. Ali, os frades capuchos de Nossa Senhora da Piedade, iniciaram suas atividades havendo entre elas, uma olaria que fornecia material para as parcas construções da época... ao menos até a chegada do “desenhador de mapas” Antonio Giuseppe Landi.

Este senhor, juntamente com outros doze, de várias nacionalidades,  faziam parte da Comissão portuguesa criada pelo tratado de Madri em 1750, para estabelecer as  fronteiras das terras que se tornariam território português e espanhol, no Novo Mundo. Esse tratado é a razão da chegada do Landi na Amazonia. 

Na Corte portuguesa, porém, corriam vozes diferentes sobre a verdadeira função dessa Comissão: diziam ser Belém o local para onde seria transferida a corte portuguesa.  A composição da Comissão de Demarcação das fronteiras entre as terras descobertas  por Portugal e Espanha nas chamadas Indias Ocidentais, chamava atenção, vista a variedade de competências nela contida. Seus membros tinham sido encontrados, além de Bolonha, a Mantova, Genova, Milão, Basilea e eram matemáticos, geógrafos, astrônomos, médicos e engenheiros.

A situação politica da Europa de então era tão perigosa que Portugal, pequeno como era, se sentia ameaçado pela vizinha e potente Espanha. Com a morte do Rei de Portugal e o luto fechado que não permitia nem saída de navios, a Comissão levou mais de dois anos para partir para Belém, tanto que acabou chegando somente dia  19 de julho de 1753.  Porém, problemas vários impediram a imediata ida para Mariuá, o local de encontro com a Comissão Espanhola.

Para que essas pessoas não ficassem sem fazer nada, o Governador deste pedaço de Brasil,  Mendonça Furtado, meio irmão do Marques de Pombal, decide  fazê-los trabalhar... Landi , que não conseguia ficar parado, aproveita e começa a ajudar a decoração do altar mor da igreja de Santo Alexandre. Começa assim a sua historia na Amazonia.

Um belo  dia partem para Mariuá, hoje Barcelos, para encontrarem a Comissão espanhola. Ali esperaram dois anos e ela não apareceu...e enquanto esperavam, Landi fez uma igreja de Santana; arranjou uma esposa, para poder ter direito a uma hectar de terra (mérito de um possivel casamento entre pessoas de “etnias” diferentes);  recolheu pés de plantas a ele desconhecidas; cataloga a flora e  a fauna local descrevendo seu habitat ... e volta para Belém com o resto da Comissão, sem terem encontrado os espanhois.

Nessa viagem, os padres que viviam nas missões ao longo do rio Amazonas, atrapalharam bastante os interesses portugueses, pois  faziam fugir os indios remadores; não forneciam comida para a comissão poder repartir... enfim nada do que tinha sido pedido aos padres, com antecedência, tinha sido feito. Resultado, essa foi a razão da expulsão deles do nosso território....e cada missão desmantelada recebeu o nome de uma cidade portuguesa: Santarem, Obidos, são exemplo.

E aqui chegamos ao que um dia foi o Presidio S. José. Com a expulsão dos padres, a olaria que ali funcionava, parou de trabalhar... telhas e tijolos não tinham mais no mercado. No meio tempo, em 1757 Landi faz a primeira visita a igreja da Sé, em construção mas interrompida, pois  ninguém conseguia colocar um teto, nela... Em 1759 começa então a dirigir os fornos da olaria dos padres expulsos, produzindo tudo aquilo que não se encontrava mais no mercado, até potes e panelas,  juntamente com as telhas e tijolos, as quais, em vez,  lhes eram necessárias para poder continuar seu trabalho.

No mesmo ano, por ocasião da transmissão à Corte Portuguesa do  primeiro projeto do Palacio dos Governadores de Belém (hoje o Museu do Estado do Pará), Landi  foi reconhecido e proposto qual arquiteto do mesmo. 

Os problemas entre Portugal e Espagna não tinham acabado. Em 1761, o Tratado do Prado prevê a volta para Lisboa dos membros da Comissão e Landi é chamado de volta. O Governador não concorda com  tal decisão  e solicita a sua permanencia aqui  pois, além do matrimonio (que desta vez se realiza realmente com a filha  de João de Souza Azevedo), ele, Landi estava ocupado com uma série de obras em Belém.

Enquanto espera a resposta,  Landi projeta o Armazem das Armas e trabalha na futura sede da catedral,  dando inicio, também, a construção da igreja de Sant´Ana, introduzindo assim a cultura felsinea na Amazonia.  Em 1763 chega a autorização da Corte e assim Belém pode se transformar na capital do neoclassicismo “all’europea”.

Isso e muito mais, foi possivel com a ajuda da olaria que se encontrava onde, depois da expulsão dos jesuitas, o prédio ainda incompleto, foi transformado, já no século XIX em deposito de pólvora, depois quartel e em 1843 em cadeia pública. Em 1943 é transformado no Presidio S. José.

O presidio era assim, enquanto eu morava na Praça Amazonas, antes que modificassem a nossa memoria, embelezando-o.  Não sabemos se chamar de restauro o que foi feito externamente nele.




Com toda essa história, não podiam ter tombado esse prédio?  Hoje, quem sabe o que estão construindo do lado, poderia ser evitado...



 PS: FOTOS  DA INTERNET.


4 comentários:

Anastácio Trindade disse...

Perfeito relato

Michel Ruffeil disse...

Se tinha padres tinha uma igreja ou, no mínimo, uma capela. Se tinha uma igreja ou uma capela era "terreno santo", então, por esta lógica, não teria um cemitério nesta área do entorno?

Pedro Paulo dos Santos disse...

Incrível esse "cochilo" das entidades responsáveis pela gestão do patrimônio cultural do Pará, em ainda não ter providenciado o tombamento dessa edificação histórica.

LABORATORIO DE DEMOCRACIA URBANA “Cidade Velha-Cidade Viva” disse...

Michel Ruffeill: com certeza tinha, mas olarias é uma exceção ter, e, visto que não foi tombada em nenhuma caso, quisemos lembrar a importancia de tijolos e telhas feitos ai...para ver se agora tombam, para evitar ulteriores estragos no seu entorno.