quinta-feira, 6 de maio de 2021

VER O PESO DE TANTO AMOR!

 Estes dias começaram uma limpesa profunda na doca do Ver o Peso. Todos aqueles que gostam de Belém so podem ficar satisfeitos com isso. Um motivo a mais para nossos poetas aproveitarem...mais uma vez.

Somos da opinião que, mais passam os anos, mais experiencias e lembranças acumulamos e isso, se registrado, serve para salvar nossa memória histórica.

Também somos da opinião que  os nossos "mais velhos" deveriam ser melhor utilizados. Suas recordações deveriam ser salvaguardadas, para ajudar a...não esquecer  nosso passado, nem deixar piorar mais ainda.

O nosso "boto", nos deu essa oportunidade hoje, lembrando sua primeira viagem para Belém, num barquinho. Recorda, desse modo, o tempo em que as barcas tinham velas que enfeitavam a doca do Ver o peso...

Mario de Andrade gostou do que viu tanto que escreveu: Que alegre porto, Belém do Pará! Que porto alegre, Belém do Pará! Vamos ao mercado, tem mungunzá! Vamos à baía, tem barco veleiro! Vamos às estradas que têm mangueiras! Vamos ao terraço beber guaraná!

A visão que teve do Veropa, levou em vez Antonio Juraci Siqueira, anos depois, a fazer uma homenagem a Belém, através de outros tantos admiradores desse nosso recanto... Leiam aqui.

VEM VER O PESO DO MEU AMOR!
Se alguém quiser ver o peso
do amor que sinto por ti,
basta falar com desprezo
do encanto que existe aqui!
De todos os recantos de Belém, o Ver-o-peso, sem dúvida alguma, é o de minha predileção. Menino do interior, vim a Belém pela primeira vez aos dez anos de idade em companhia de meu padrinho José Siqueira e do meu padrasto José Oliveira, a bordo da canoa freteira Flor do Cajari. Impossível descrever com palavras o que senti ao avistar, da canoa, as luzes da cidade refletidas na baía do Guajará...

Belém dançava sob as águas e ganhava vida ao passo que a canoa se aproximava do cais: ruídos de motores, buzinas de carros, música e propagandas comerciais nos alto-falantes e, finalmente, o burburinho humano da doca do Ver-o-peso. Belém, enfim, ali diante dos meus olhos!

Foi amor à primeira vista! Fiquei um tempão no convés bebendo tudo com os olhos e ouvidos. Tudo era mágico e maravilhoso diante do caboclinho tuíra de sol. Dos letreiros coloridos de neon à multidão de canoas de todos os tamanhos e formas que disputavam lugar na doca. Fui dormir embalado por essa magia e acordei com o vozerio vindo da feira e do mercado de ferro. Vontade doida de sair da canoa e me misturar à multidão.

Por volta das sete horas, Deco, o cozinheiro da Flor do Cajari, foi ao mercado comprar peixe para o almoço e me levou com ele. No trajeto da canoa ao mercado, totalmente zonzo por estar pisando pela primeira vez em terra estranha, fui trombando com as pessoas entre o dilema de olhar para os lados ou me manter firme nos calcanhares do cozinheiro para não me perder no meio do povo. Deco comprou piramutaba que o peixeiro habilmente embrulhou em folhas de guarumã, pois na época não se usava os famigerados sacos plásticos. Passei o resto do dia na canoa, só na mutuca, macuricando tudo. Voltei pro Cajari mas deixei meu coração no Ver-o-peso.

Depois disso, muita água passou por baixo da ponte existencial até fevereiro de 1976 quando aportei definitivamente em Belém, atando minha canoa na “Felicidade”, pequena passagem no bairro da Condor, onde cultivo e compartilho sonhos na tentativa de tornar mais leve e colorido o fardo dos dias.

Em 1986, então presidente da União Brasileira de Trovadores, seção de Belém, promovi e coordenei o II Concurso Paraense de Trovas sob os temas: Ver-o-peso e Vigilengas. Aqui, as trovas premiadas sobre o Veropa. Detalhe: dos 15 autores premiados, 11 já habitam a Mansão Celestial.
No Ver-o-peso o feitiço,
vigilenga, erva cheirosa,
o preto, o branco, o mestiço...
Ah!, que mistura gostosa!
( Affonso Pinto da Silva)
No Ver-o-peso da vida,
eis um fato singular:
os barcos vão de partida
para a saudade chegar...
(Alfredo Garcia)
Ver-o-peso, a tua imagem
gravada no meu olhar,
até parece miragem
brincando à luz do luar.
( Ana Maria Freire)
No Norte sempre brilhaste
com fulgor que ninguém tem
e o Ver-o-peso é o engaste
dessa estrela que és, Belém!
( Benjamin Camarão)
Teu nome tem tanta luz,
Ver-o-peso enluarado,
que o próprio sinal da cruz
se agasalha deslumbrado.
(Celeste Proença)
Oh! Ver-o-peso querido,
lugar de felicidade,
um belo jardim florido
da nossa bela cidade!
( Creuzalina da Cruz)
Ver-o-peso esplendoroso,
belo cenário de eventos,
cartão postal buliçoso
de risos e sofrimentos.
( Gerson Ferreira)
Ver-o-peso... Pôr de tarde...
Quebram-se as ondas no Forte
se queixando da saudade,
da saudade do meu Norte.
(José Eimar Monteiro)
Pesa-me tanto desprezo
de quem fiz a preferida...
Acho até que errei o peso
no Ver-o-peso da vida.
(José Ildone)
Frutos da terra empilhados,
cuias , paneiros também.
Poemas amontoados
no Ver-o-peso, em Belém.
( Maria de Lourdes Cardoso)
Deus pintou a natureza
com tintas que idealizou,
e o resto dessa beleza
no Ver-o-peso deixou.
( Roberto Rodrigues)
Em Belém eu fiquei preso
pela paisagem postal
da Doca do Ver-o-peso
na sombra do mangueiral
(Rufino Almeida)
Cada vela colorida
no Ver-o-peso risonho,
é um retalhinho da vida
da capital do meu sonho!
( Sylvia Helena Tocantins)
Ver-o-peso, vou cantando,
rimas ao léu na poesia,
minha balança pesando
retalhos de fantasia.
( Thereza Nunes Bibas)
Mal desponta a madrugada,
o Ver-o-peso desperta!
Febril colmeia agitada:
- Belém, a porta está aberta!
( Zinalda Castelo Branco)
***
Bom dia, meu povo!

OBRIGADA AO NOSSO BOTO: ANTONIO JURACI SIQUEIRA
Maria Helena 

Um comentário:

Unknown disse...

Ver-o-peso respira!