Mais uma vez o amigo Antonio Lobo Soares nos traz uma reflexão sobre um problema que afeta a realidade de muitos paraenses: o RUIDO.
Não sabemos se o Mapa Acústico de 2004 teve alguma serventia, concreta, para melhorar a nossa realidade, mas aqui vão suas observações a respeito do:
Ruído e desvalorização imobiliária II
Antonio Carlos Lobo Soares*
Na última crônica mencionei alguns estudos desenvolvidos na Alemanha, EUA, Canadá e Polônia que mostram que o mercado imobiliário é afetado de forma negativa pelo ruído. Destaquei a importância do mapeamento acústico para identificar as áreas das cidades mais afetadas pelo ruído, com o objetivo de propor medidas de mitigação.
Em 2004 o Mapa Acústico de Belém já mostrava que suas vias principais apresentam níveis sonoros acima dos limites legais, devido principalmente ao ruído de tráfego rodoviário. Durante muito tempo, residir em via principal de tráfego era sinal de status social, pois na cidade a mobilidade é - quase - tudo de bom.
Em Belém ou Lisboa, os imóveis próximos dos transportes coletivos/ônibus (aqui) ou "metro" (lá) são mais valorizados. Entretanto, o efeito do som embaixo da terra é um e ao ar livre é outro. Por isso, os imóveis em Portugal próximos ao "metro" continuam valorizados, enquanto em Belém ocorre o contrário.
Em Belém observa-se a migração das construções de edifícios para as vias paralelas ou transversais às avenidas de grande tráfego, o que se verifica na Rua João Balbi (Nazaré) e nas transversais da Pedro Miranda e Marquês de Herval (Pedreira) e da A. Barroso (Marco). Lembrando sempre que a redução do ruído pode ser feita na fonte emissora, no meio e junto ao receptor (as pessoas, os residentes).
Tanto os agentes do mercado imobiliário como os belenenses deveriam cobrar a substituição da frota de ônibus ruidosos por modelos silenciosos e com ar refrigerado, prevista para março de 2020, bem como a fiscalização do uso de descarga livre pelos motoqueiros, pelo tanto que maltratam o ambiente sonoro urbano.
Para reduzir o ruído entre a fonte e o receptor, é necessário utilizar asfalto de melhor qualidade e manter a velocidade em 60 Km/h no perímetro urbano. Acima disso, o atrito dos pneus com o solo produz ruído extra ao gerado pelo motor e escapamento dos veículos. Ao motorista cabe adquirir pneus com emissão de ruído "A" pelo selo do INMETRO.
A NBR 15575 (07.07.2013) passou a exigir novos elementos visando melhorar o desempenho acústico das edificações, entre eles o isolamento de fachada, capaz de defender os receptores do ruído exterior.
Na escolha do imóvel para morar ou alugar, recomendo que evitem zonas ruidosas de acesso a hospitais, de entroncamento de vias, de diversão noturna etc., e procurem espaços tranquilos junto a parques e praças com áreas verdes. Como morar perto de cemitério é controverso, deixo esta decisão ao critério de vocês.
* Arquiteto PhD, Museólogo e Artista Plástico,
Tecnologista Sênior do Museu Goeldi.
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