sexta-feira, 10 de outubro de 2025

A GRATIDÃO DA NAZICA


Contei estes dias, como nasceu a ideia de fazer um Círio em Bolonha, cidade italiana governada por comunistas, desde o  fim da Segunda Guerra Mundial. (https://laboratoriodemocraciaurbana.blogspot.com/2025/10/21-anos-do-cirio-em-bolonha.html)

Uma manhã em 2004, fui convidada pela consul Honorária do Brasil em Bolonha, a participar de um evento sobre o Brasil, num município situado no entorno de Bolonha. Aceitei, e após o evento, durante o almoço, sentou-se ao meu lado um senhor,  que depois descobri ser um Senador do partido de governo, Democracia Cristã.

Conversa vai, conversa vem, ele  me pergunta de onde eu era: de Belém do  Pará, respondi e ele me olhou e disse: ah! que coincidência pois estou mandando um container com ajuda para as obras da igreja de Nazaré...

Desta vez fui eu quem se admirou pois, depois da minha aposentadoria em dezembro de 2003, há meses estava a procura  de um modo de mandar minhas coisas para Belém. Aproveitei imediatamente para perguntar se tinha espaço no seu container para colocar algo da minha mudança lá dentro...

Fui tão direta ao assunto que ele riu e disse: a senhora pode ir ver o container, até agora mesmo... e chamou seu motorista entregando-lhe as chaves. Não consegui nem mais mastigar o almoço, de tanta pressa que tinha em ir olhar o interno do container...mas esperei servirem o café para depois ir ver o que me interessava.

O  container era enorme e tinha dentro um automóvel, algumas caixas e nas paredes tudo o ocorrente para uma oficina mecânica. No baú do carro, várias impressoras de  computer. Ia dar coisa a beça em cima desse carro.

Voltei, alegre da vida e perguntei ao Senador se podia fazer um patamar em cima do veículo. Ele sorriu e disse: sim, está ao seu dispor.

Não podem imaginar a minha alegria. Telefonei imediatamente a uma brasileira cujo marido sabia fazer tudo e o contratei para fazer o que precisava para concluir essa minha mudança para o Brasil.

O patamar foi feito e ali colocamos os moveis da sala, da cozinha, minhas cadeiras Thonet, austriacas, e um daqueles baús antigos, cheios de coisas para a casa, como quadros, lençoes , cortinas, enfim, deu coisa a beça e ainda sobrou lugar.

Feito isso, fechei a casa onde morava de aluguel, entreguei as chaves e voltei para Belém, toda feliz e satisfeita para esperar a chegada do navio que traria minhas coisas... o que durou uns três meses.

Tudo o que coloquei dentro, chegou na santa paz, mas as coisas que iam para a igreja, não. As impressoras, desapareceram todas, assim como algumas ferramentas que estavam na parede do container. Também não me devolveram o material usado para fazer o patamar.

Eu tinha feito uma relação de tudo que estava trazendo, desde guarda-chuvas, combinações, talheres, cristais, tudo, enfim, e fui no consulado brasileiro de Milão para que carimbassem... Avisei o pessoal do Senador que era bom fazerem o mesmo, mas não  fizeram. Como provar que faltava algo, então?

Os anos se passaram e um dia, contando para alguém como consegui trazer minhas coisas para cá,  falei que tinha feito um Círio e mostrei as fotos. Nessa ocasião  vejo a foto do Senador com a Consul seguindo a procissão.


                                                                                2004 Cirio procissão

Somente nesse momento entendi que a N. Sra. de Nazaré estava por trás dessa coincidência. Ele, o Senador, foi o  intermediário do seu agradecimento e eu nem sabia.


Ao anoitecer do dia do Círio em Bolonha, o Conde Vincenzo Amedeo Lucchese Salati,  presidente da Confraternita di San Rocco me homenageou com uma Indulgencia por ter apresentado a Nazica aos bolonheses.









Desde que descobri esse agradecimento da padroeira do Pará, todas as vezes que vou a Bolonha, lhe levo um manto novo, para a felicidade do Monsignor Stefano Ottani, vicario generale della diocesi di Bologna e parroco della Basilica que sempre me ajudou a difundir a cultura paraense.  


Passaram-se 21 anos desde que fiz esse Círio. 


Foto de 2023 com D.Stefano e Rose, a paraense que carregou a Nazica durante o Cirio. Este manto que se vê ao fundo, foi doado pela amiga Iris Rodrigues.


Um comentário:

Anônimo disse...

Muito boa reportagem