"A Amazônia precisa ser repensada."
Requiem da Amazônia
Nunca o ser humano teve tantos meios de destruir-se.
Em apenas três anos de governo de FHC, ocorreram cerca de 10% de todos os desmatamentos da Amazônia desde o descobrimento do Brasil. De acordo com a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) aproximadamente 80% da extração de toras na Amazônia é ilegal.
Em fins de 1952, criou-se a SPVEA, Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia. Em 27 de outubro de 1966, transformou-se a SPVEA em Sudam. Em 1955 a mineradora Icomi, no Amapá, começou a mandar manganês para a América, cuja concessão primeira era para 50 anos. Hoje jaz no local a pobreza, o cadavérico buraco .
Mais uma vez Sudam e Basa, modernos promotores da comercialização da madeira em bruto, inteligentes incentivadores da invasão das pastagens e da agricultura na floresta, atentos vigilantes do uso do mercúrio nos garimpos e da expulsão dos índios de suas terras, verdadeiros fiscais da corrupção na distribuição dos incentivos fiscais, brilhantes financiadores da exportação do subsolo amazônico e de gigantescas sepulturas (talvez quem sabe, pensando usá-las para enterrar um dia os resíduos radioativos do mundo), visionários observadores das pistas de pouso para os aviões do narcotráfico, voltam às manchetes.
O blablablá , vazio e repetitivo, volta a ser cantado. Tenta-se, mais uma vez, (en)cantar nosso sofrido e despreparado povo. Chora-se a desordem social e econômica que Sudam e Basa produzem há 35 anos.
É o Requiem da Amazônia ? O uirapuru está morrendo ?
Chega de blablablá. Chega de choro.
É hora de chamar ao palco novos personagens. Onde andam nossos professores universitários ? E os pesquisadores ? E o autêntico cidadão ?
O eminente advogado Eduardo Grandi, rara luz no meio de tanta escuridão, nos alerta da necessidade de ampliar-se o debate deixando-se de lado os argumentos cosméticos e a especulação passional. Seixas Lourenço, ex-secretário para a Amazônia Legal do Ministério do Meio Ambiente, ex-reitor, ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas do Pará (INPA), disse existirem dificuldades de interlocução com o setor empresarial . O brilhante jornalista e estudioso da Amazônia, Lúcio Flávio , conclama nossas elites locais a encararem o risco da mudança e largarem as migalhas do banquete federal com que se acostumaram a vegetar.
É hora de questionar. É hora de ousar na Amazônia.
Não mais é permitido pensar o desenvolvimento da Amazônia, via desmatamento. A estrada, a pecuária, a mineração, o garimpo, as madeireiras, não mais podem ser o motor principal do planejamento da região, como certamente não o deverá ser a agricultura.
A Amazônia necessita de ser repensada. Não mais com a presença exclusiva do político e do empresário, mas também com a presença do cientista e do cidadão. O sistema climático do planeta, o funcionamento biológico, enfim, a vida na Terra, está dependente do futuro da Amazônia. Não adianta dizer que não fomos nós, amazônidas, que conduzimos a Gaia para a beira do abismo. Não adianta pegar no arco e flexa para defendermos nossa capacidade de gerenciar a Amazônia, mesmo porque fracassamos até os dias de hoje. O que devemos fazer, agora, já, é ousarmos enveredar em novas estratégias, que necessitarão incluir a discussão nas áreas de ciência e tecnologia. Há que se incentivar nossas Universidades e centros de pesquisas, se quisermos participar das decisões futuras sobre nossa Amazônia. Lembro que, em 1998, em seminário com presença dos sete países representantes amazônicos e mais Portugal e Espanha, e com aval da Unesco, sugeriram, em Manaus, que a bacia do Amazonas passasse a ser patrimônio da humanidade .
O governo brasileiro deve acordar, sentir, ver a importância estratégica da Amazônia . Há que se pensar num grande Projeto Amazônico, priorizando a aquisição de conhecimentos e produção de saber.
Publicado em 06.02.2000 por Valdemiro Gomes
O republicamos porque ainda muito atual. Nem SPVEA, nem SUDAM, resolveram o problema.
A historia ensina...vamos mudar de rumo, então. Sabemos que somos, na verdaade, um Patrimônio da Humanidade ... mal aproveitado, mal governado, porém.
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