quinta-feira, 18 de março de 2021

PAULO CHAVES POR OSWALDO COIMBRA

Tem opiniões e opiniões. Algumas, porém, com exemplos concretos e visiveis.

Paulo deu motivo para tantos tipos de opiniões...

PAULO CHAVES

Na ocasião, eu estava responsável por um grande projeto de pesquisa sobre Cinema na Amazônia, desenvolvido para o CNPq. Por isto tive de entrevistar Déa Castro, então, nomeada por Paulo Chaves, no comando da Secretário Estadual de Cultura, diretora do Museu de Arte Sacra. Ela havia colaborado na produção de Um Dia Qualquer, de Líbero Luxardo. Seu marido, Hélio Castro, foi o protagonista do filme. Déa, do alto de seu cargo, havia elaborado uma visão do desenlace da crise surgida entre Paulo Chaves e parte do clero de Belém revoltado contra a transformação da Igreja de Santo Alexandre em parte de um museu - o que ela dirigia. Ao final da entrevista, ela contou como tinha sido contornada aquela crise:
"Numa reunião com Paulo Chaves, ele me disse: - Me entendo facilmente com o padre, secretário do arcebispo, porque ele gosta das duas coisas de que eu gosto: dinheiro e mulher".

Déa não teria porque inventar esta história que, do meu ponto de vista, retrata aspectos relevantes do perfil de Paulo Chaves. Não estou revelando somente agora o que ela contou. Já havia relatado isto, antes, em rede social, quando Paulo podia se manifestar a respeito. E quando ele queria, se manifestava, como eu bem sabia. Porque houve momentos, durante o longo reinado dele no principal órgão da cultura do Pará. em que reagiu, em entrevistas, às críticas feitas por mim, como jornalista, dizendo que eu "não gostava dele". O motivo que alegava: ele havia aceito um parecer polêmico, com desdobramento na Justiça, graças ao qual foi vetado pela SECULT a publicação de um de dois dos meus livros apresentados ao órgão. Era a visão dele àquilo que, depois, escrevi sobre a imensa concentração de dinheiro público feita por ele em algumas pouquíssimas obras de restauração no acervo arquitetônico de Belém, composto de mais de 2.000 imóveis, enquanto a maior parte deste patrimônio maravilhoso se deteriorava.

Uma decisão dele foi particularmente escandalosa: a de mandar derrubar o muro do Forte do Castelo, de mais de 150 anos, sem levar em conta as opiniões contrárias dos técnicos dos institutos de preservação do Pará.

É possível vislumbrar algum mérito nas gestões de Paulo Chaves? É. Na minha opinião, ele demonstrou o imenso potencial para o desenvolvimento do turismo cultural do Pará, com consequente geração de empregos, existente quando o Estado cuida bem de seu patrimônio histórico. Mas fez isto com espírito extremamente elitista, grande dose de vaidade - basta lembrar que ele renomeou obras seculares restauradas para parecerem realizações dele (o cais do porto, virou Estação das Docas, o Hospital Militar, Casa das Onze Janelas, o antigo convento, Polo Joalheiro etc). E, o que é pior, espalhando desconfiança e ressentimentos - dos quais tinha consciência, tanto que atribuía a mim este sentimento - quanto à correção ética de algumas das suas decisões e atitudes.

Um dia terá de ser revisto, por exemplo, como ele tratou o jovem arquiteto Daniel Campbell - já falecido, cujo nome foi dado pela Faculdade de Arquitetura da UFPa a seu auditório - quando Daniel ganhou o concurso com o projeto que deveria ter sido executado na recuperação dos Cais do Porto de Belém.

Por fim um lembrete para quem acha que Paulo Chaves, como agente público, não pode ser julgado, depois de morto. Se esta impossibilidade, de fato existisse, tornaria inviável a existência da História, como área de estudos e de registro do passado da Humanidade.

O que, obviamente, ninguém pode fazer é entrar no âmbito da vida particular de outra pessoa, esteja ela viva ou morta.

Da minha parte, como jornalista-pesquisador que dedicou duas décadas à recuperação da memória dos construtores de Belém, não tenho nenhuma dificuldade em repetir aqui e agora o que disse e escrevi enquanto nas mãos de Paulo Chaves esteve entregue a distribuição na área da Cultura dos recursos gerados pelos impostos pagos pelos paraenses.



(Ilustração: A Igreja de Santa Alexandre, construída pelos jesuítas, a partir dos anos de 1600, perdeu suas funções religiosas, por decisão de Paulo Chaves, para se tornar anexo do Museu de Arte Sacra, como passou a ser chamado todo o conjunto monumental religioso do qual ainda faz parte o antigo Palácio do Arcebispo)

OSWALDO COIMBRA é jornalista, escritor e pesquisador.

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