sábado, 14 de março de 2020

A PAISAGEM SONORA DO BOSQUE.


Mais uma contribuição do amigo Antonio Carlos Lobo Soares*.
Agradecemos.

A Paisagem Sonora do Jardim Botânico
 Bosque Rodrigues Alves


O Jardim Botânico Bosque Rodrigues Alves é um fragmento de 14ha de floresta amazônica, preservado desde 1881 em uma quadra cercada por tráfego intenso no bairro do Marco, em Belém do Pará, Brasil. O uso e ocupação do solo em seu entorno vem prejudicando a qualidade do ambiente sonoro em seu interior.

Em 2012 e 2015 medi os sons internos e externos ao Bosque e entrevistei os seus visitantes para caracterizar a sua paisagem sonora. A audição humana distingue os componentes sonoros da paisagem, enquanto o sonômetro mede os seus níveis.

No Bosque predominam sons de aves em viveiros, macacos soltos, passarinhos, sapos, grilos e cigarras. Também há sons de fontes d’água em lagos, cascatas e monumentos. Entre os sons mecânicos, encontrei máquinas de refrigeração, motosserra, trator, compressor de água e carros de passeio.

Comprovei que os 200m de vegetação, que separam a via frontal do centro do Bosque, não "amortecem" o som do tráfego acima de 65dB que o invade pelo gradil e passa pela rarefeita vegetação de sub-bosque sem encontrar obstáculos. Em muitos locais o nível sonoro excede 55dB, em especial na periferia, porém, também é elevado em locais mais ao centro. Este resultado mostra que a percepção sonora no interior do Bosque melhora quando o sinal fecha e reduz o tráfego na Av. A. Barroso.

Segundo os visitantes, os aspectos mais agradáveis do Bosque são o clima (19%); a tranquilidade e o silêncio (16%); os animais (15%); a vegetação (13%); e “tudo” (17%). Os sons de araras (38%) e do tráfego rodoviário (14%) destacaram-se nas entrevistas, seguidos pelos sons do vento nas árvores (9%).

Apesar das medições terem confirmado o comprometimento dos espaços do Bosque quanto ao nível sonoro, 54% dos entrevistados não se sentiram incomodados e o consideraram normal. Para 90% não há sons desagradáveis no Bosque e 42% avaliaram o som do tráfego rodoviário como desagradável.
Para 97% dos entrevistados a qualidade sonora muda quando se entra ou sai do Bosque. Apesar disto, muitos não souberam explicar o porquê dessa mudança. Os funcionários se mostraram mais sensíveis aos sons do tráfego rodoviário, entretanto, quando questionados se a intensidade destes lhes incomodava, a resposta foi negativa, confirmando a agradabilidade dos sons naturais dentro do Bosque.

Devido a sua paisagem sonora agradável, o Jardim Botânico Bosque Rodrigues Alves é outro excelente espaço para se desfrutar de qualidade de vida no ambiente urbano de Belém.


* Arquiteto PhD, Museólogo e Artista Plástico,
Tecnologista Sênior do Museu Goeldi.

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