Cresci numa casa cheia de gente, onde metade eram crianças e os
outros, eram nossas mães a avó e as empregadas... So tinha mulher, pois meu irmão
foi mandado para Santarém, para um
colégio interno com medo que virasse: fifi... kkkkk.
Com 25 anos fui estudar no exterior e comecei a aprender a viver
sozinha. Depois fui parar na Italia onde casei e, o marido foi chamado para
fazer o serviço militar, que durava 2
anos, longe de casa...e lá fiquei sozinha de novo com uma nenen recém nascida...mas
chegou ajuda do Brasil. Minha tia Claudia passou um ano comigo, ainda bem.
Quando o marido voltou do serviço militar, o casamento começou a
acabar e em menos de 3 anos la estava eu sozinha de novo com uma nenen
pequena... Desta vez foi minha mãe que
chegou para me ajudar. Ficou comigo dois anos e começou um vai e vem, pois a tia
Claudia chegava, toda vez que minha mãe voltava para o Brasil.
Nesse meio tempo, já tinha começado a trabalhar contra a ditadura... e as vezes tinha que viajar para fazer o que era necessário para denunciar o que acontecia no Brasil. Daí, depois da separação, quando resolvi voltar para o Brasil, os milicos brasileiros já tinham me descoberto e meu nome ja aparecia em todos os portos e aeroportos do Brasil Eu descobri também o pátrio poder: que não me deixava sair da Italia com a criança, sem autorização do pai. Começava o meu exilio e aumentou o meu trabalho contra a ditadura. Começava a conhecer as leis italianas.
Com a derrubada da ditadura já podia passar as férias em Belém com a filha, que vinha com seu passaporte brasileiro. .. e a minha obrigação de voltar com ela para a Itália, a causa do patrio poder.
Os anos passaram, a minha filha cresceu e saiu de casa e eu voltei
a viver sozinha... dai, comecei a usar meu tempo livre falando e escrevendo
sobre a Amazonia. Enfim, não me sobrava
muito tempo, pois não estava acostumada a
ficar sem fazer nada.
Cheguei na Europa em 1969 para ficar apenas dois anos estudando, e acabei voltando somente em 2004, quando pude me aposentar. A cabeça cheia de leis sobre "programação econômica do território" que tinha sido meu trabalho nos ultimos 25 anos. A filha morava longe e nos víamos raramente... porque ficar lá sozinha? E decidi voltar para Belém definitivamente. Mamãe e tia Claudia vieram morar comigo, em Belém,assim como minha irmã com sua filha.
Os anos foram passando e seja a tia Claudia que a mamãe morreram; minha sobrinha foi estudar no Rio e sua mãe foi atrás...e la fiquei sozinha novamente... na praça do Carmo. Ainda bem que tinha inventado de fundar uma associação para defender a Cidade Velha, assim tinha algo para fazer. Os associados todos, eram mais ou menos da minha idade.... e começamos a ler as leis e descobrir a origem e a causa de nossos danos.
Enquanto os anos continuavam a passar, todos nós envelhecíamos e a idade média dos associados não mudava, mas a saúde de cada um, sim. Usar as calçadas era um dos peoblemas para quem começava a ter problemas com pernas e joelhos... A juventude estudiosa, ia para onde os professores sugeriam, assim, o problema de defesa do patrimônio nem sempre era opção deles... e nós, ficávamos mais sós nessa luta. A escola não educava os alunos à defesa do nosso patrimônio, e eles continuavam a não conhecer os problemas dos idosos da area tombada da Cidade Velha.
Encurtando a história, a terceira idade chegou para todos os
associados, onde o mais novo já tinha 70 anos... Ela trouxe consigo tudo o que essa
“melhor idade” proporciona a quem chega até ela e eu comecei a ficar sozinha. Pouco
a pouco todos os ossos dos associados começaram a ... envelhecer, também, assim fiquei sem ninguém
para me acompanhar as reuniões. Paralelamente não tinha crescido nada de util ao patrimônio, na cabeça dos estudantes.
Essa “melhor idade” não é que me ignorou, e, comecei a desmaiar
atoa... e o coração era o culpado. Daí
os meus joelhos, a anca, os tornozelos, enfim, até a coluna vertebral se fez presente...
como já tinha acontecido com as sócias da associação. Como ir ao Ministério Público
defender os interesses da CIVVIVA? Como continuar a defender a Cidade Velha?
Ainda bem que os órgãos públicos a quem dirigíamos nossas reclamações, descobriram
a possibilidade de nos comunicar a “promoção
de arquivamento” (*)sem tomar nenhuma providência concreta para
resolver os problemas que enfrentavamos. Era o fim das nossas espectativas.
Que sentido tem, perguntaram os associados, continuar a disturbar
essas pessoas? Assim sendo fica sem algum sentido a existência de uma
associação... As leis que descobrimos
que não eram respeitadas, continuam a sê-lo apesar dos nossos pedidos de providências.
Todos os partidos que governaram a cidade, desde a fundação da associação em 2006, continuaram a ignorar todas as normas relativas a poluição sonora. Os funcionários públicos, que não
estudaram Direito, continuavam a ignorar ou desconhecer o sentido das palavras “salvaguarda,
defesa, e proteção” e com a desculpa que
não tinha uma lei que proibia... autorizavam cores estapafúrdias aos prédios da
área tombada. As calçadas eram ocupadas por postes, mesas e cadeiras impedindo
os cidadãos de usar seu direito a elas. A trepidação que acontece com a
passagem de veículos pesados além das carretas com dezenas de pneus ou a poluição
sonora, era atribuída aos “urubus” que arredavam as telhas.
Como falar em “salvaguarda” da nossa memória histórica se, até
azulejos são autorizados em casas da área tombada que nunca os tiveram? E desse
jeito “defendem” a memória de quem?
Os “velhos” fundadores da CIVVIVA viram o abandono da Cidade Velha
aumentar com a ajuda dos órgãos públicos, apesar das leis em vigor dizerem o contrário
do que fazem, ou do que não aplicam... As “audiências públicas” desapareceram e
viamos projetos serem iniciados com o total desconhecimento dos cidadãos da área
interessada.
Aumentamos nossos conhecimentos mas não serviu para nada. A aproximação da COP30, piorou a situação da cidade e dos cidadãos. A mediocridade aumentou a olhos vistos... Isso nos faz sentir totalmente inúteis, apesar de toda a nossa boa vontade de ajudar Belém a melhorar, apesar da nossa idade e de todas as recomendações contidas nas leis, relativamente a promoção do desenvolvimento baseando-se no "estimulo a participação da comunidade através de suas organizações representativas".
Escrevemos ao novo Prefeito, logo após sua posse e pedimos um encontro e até hoje não tivemos resposta... Ao menos, aparentemente, o carnaval não será um problema na área tombada, já que o proibiu em todo canto de Belém. O edital, publicado sem aviso prévio às agremiações afetadas, está disponível no "Diário Oficial" do município, mas não detalha motivações para a seleção restrita. Ninguem sabe o porque dessa decisão... mas fiscalizarão a aplicação dessa ordem? Vão controlar a poluição sonora nos bares, ao menos na área tombada da cidade? A trepidação oriunda do exagero de decibeis causa danos a pessoas, animais e coisas, também... e os velhos para onde devem correr?
X X X X X
Escrevi isso e muito mais num livro que será publicado brevemente .... afinal de contas:
que os eventos mencionados já ocorreram e que a situação objeto da representação perdeu atualidade. Assim, o arquivamento do presente procedimento se justifica por diversos fatores."
Responder depois de cinco anos depois da instauração... assim é muito comodo, para usar uma palavra educada.
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