A MEMORIA TAMBÉM É UM PATRIMÔNIO.
Sou da opinião
que “Crescer é acumular experiência,
envelhecer é saber usa-las”.
Dia
3I/03/2023, durante a apresentação do relatório sobre a VERDADE E A MEMÓRIA DO
PARÁ, olhava aqueles tomos e me perguntava como fariam para que tivesse sentido
o resultado de tanto trabalho?
A tal fim,
tentei dar uma sugestão baseando-me na utilidade da frase acima: aproveitei e
falei do que vivi na Italia e daquele método usado para começar a educar as crianças
a respeitar o patrimônio daquele país
cheio de história e arte, onde estavam crescendo.
Nem todos
gostam de ouvir as referências que faço do período em que estava exilada, e
acumulava experiência para, quem sabe um dia usar na minha terra, mas dessa vez
não me preocupei com os... ciumentos, e dei minha sugestão aos presentes na Alepa. .
A respeito,
já tinha escrito algo e reproponho aqui.
GOTA (SALVANDO A MEMÓRIA através dos velhos...)
1978 -Minha filha tinha começado a ir
para a escola, num parque/jardim Margherita, construído em homenagem a primeira Rainha da Itália, em
Bolonha.
Em 1876, durante os trabalhos de realização desse parque
público, encontraram uma vasilha de bronze. Imediatamente a curiosidade de arquelogos
os levou até la e 172 tumbas etruscas, acompanhadas de estrelas funerárias
ricamente decoradas, vieram a luz.
Entre 1887 e
1889, outras 22 tumbas foram encontradas, inclusive aquela enorme, feita de
blocos de travertino que ficou la no ‘Giardini’ relembrando o passado.
Até a segunda metade do século XX, foram
encontradas 236 sepulturas, dos seculos
VI-IV a.C., muitas delas dotadas
de objetos pessoais, incluindo roupas, jóias,
armas e vasos de excelente qualidade... e a Tumba Grande resultou ser a mais
rica do panorama felsineo.
A escola da minha filha tinha esse ‘museu a ceu
aberto’ no seu entorno, com algumas das tumbas que não foram transferidas para
museus. Com seis anos de idade, começava a tomar conhecimento e conviver com o atrimonio historico, respeitando, a
história da Itália... e eu com ela. O método usado na sua escola era o
Montessori.
Os anos foram passando e o modo de ensinar usou, também, outro modo de salvaguardar a
memória... No aniversário do fim da Segunda Guerra mundial, por exemplo,
apareciam nas escolas, anciães, para contar o que foi a guerra; o que
acontecia nas cidades; o que faziam para encontrar comida; onde escondiam os
vinhos dos assaltos alemães; os prédios que foram derrubados como eram; as ruas
que ainda eram de pedras do tempo dos romanos...
Essas visitas aconteciam duas vezes por ano. Era um
modo de contar a historia através de quem a viveu. As moças do tempo da guerra
já eram avós. Tinham-se passado cerca de 30 anos do fim da guerra.
Mais tarde, ja adulta, minha filha fez um
documentário sobre a presença dos PRACINHAS brasileiros, no Apenino Bolonhes: “IL FILO BRASILIANO’.
Escolheu o
fio elétrico que os Pracinhas usaram para se comunicar nos campos de batalha e
que,apos a vitoria, doaram aos municípios por onde passaram. Ela usou isso, como elo das lembranças que levantou para documentar aquele triste
período. Essa doação serviu para ajudar na re-eletrificação do pós-guerra naquela
terra sofrida.
Até hoje muitos municípios por onde passaram os Pracinhas festejam a ajuda que os brasileiros deram durante e depois da guerra. O fazem, inclusive, usando os sobreviventes... aproveitando aquele capital, a matéria prima que é a memória dos mais velhos, e levando as crianças para desfilar na rua cantando "mamãe eu quero", como agradecimento.
Diversamente se continuaria a praticar o "crime do silencio".
POR QUE NÃO USAR OS DONOS DAS MEMÓRIAS CONTIDAS NESSE RELATORIO?
Um comentário:
Muito interessante essa sugestão, e que, se acatada por quem de direito, poderia ser bem oportuna. Afinal, aparentemente, uma das principais causas do descaso com a preservação do nosso patrimônio cultural, histórico e artistico é justamente a falta de conhecimento. A despeito das determinações legais sobre a educação patrimonial, a realidade nos revela que as supostas ações até agora implementadas pelo poder público, não tem tido efeitos expressivos na percepção da relevância do engajamento da população em geral nos esforços para resguardar os elementos de nossa memória.
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