quarta-feira, 5 de abril de 2023

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: SUGESTÃO

A MEMORIA TAMBÉM É UM PATRIMÔNIO.

Sou da opinião que “Crescer é acumular experiência, envelhecer é saber usa-las”.

Dia 3I/03/2023, durante a apresentação do relatório sobre a VERDADE E A MEMÓRIA DO PARÁ, olhava aqueles tomos e me perguntava como fariam para que tivesse sentido o resultado de tanto trabalho?

A tal fim, tentei dar uma sugestão baseando-me na utilidade da frase  acima: aproveitei e falei do que vivi na Italia e daquele  método usado para começar a educar as crianças a respeitar o patrimônio  daquele país cheio de história e arte, onde estavam crescendo.

Nem todos gostam de ouvir as referências que faço do período em que estava exilada, e acumulava experiência para, quem sabe um dia usar na minha terra, mas dessa vez não me preocupei com os... ciumentos, e dei minha sugestão aos presentes na Alepa. .

A respeito, já tinha escrito algo e reproponho aqui.

GOTA  (SALVANDO A MEMÓRIA através dos velhos...)

1978 -Minha filha tinha começado a ir para a escola, num parque/jardim Margherita, construído  em homenagem a primeira Rainha da Itália, em Bolonha.

Em 1876, durante os trabalhos de realização desse parque público, encontraram uma vasilha de bronze. Imediatamente a curiosidade de arquelogos os levou até la e 172 tumbas etruscas, acompanhadas de estrelas funerárias ricamente decoradas, vieram a luz.

Entre  1887 e  1889, outras 22 tumbas foram encontradas, inclusive aquela enorme, feita de blocos de travertino que ficou la no ‘Giardini’ relembrando o passado.

Até a segunda metade do século XX, foram encontradas 236 sepulturas, dos seculos  VI-IV  a.C., muitas delas dotadas de  objetos pessoais, incluindo roupas, jóias, armas e vasos de excelente qualidade... e a Tumba Grande resultou ser a mais rica do panorama felsineo.

A escola da minha filha tinha esse ‘museu a ceu aberto’ no seu entorno, com algumas das tumbas que não foram transferidas para museus. Com seis anos de idade, começava a tomar conhecimento e conviver com o atrimonio historico, respeitando, a história da Itália... e eu com ela. O método usado na sua escola era o Montessori.

Os anos foram passando e o modo de ensinar usou, também,  outro modo de salvaguardar a memória... No aniversário do fim da Segunda Guerra mundial,  por exemplo,  apareciam nas escolas, anciães, para contar o que foi a guerra; o que acontecia nas cidades; o que faziam para encontrar comida; onde escondiam os vinhos dos assaltos alemães; os prédios que foram derrubados como eram; as ruas que ainda eram de pedras do tempo dos romanos...

Essas visitas aconteciam duas vezes por ano. Era um modo de contar a historia através de quem a viveu. As moças do tempo da guerra já eram avós. Tinham-se passado cerca de 30 anos do fim da guerra.

Mais tarde, ja adulta, minha filha fez um documentário sobre a presença dos PRACINHAS brasileiros, no Apenino  Bolonhes: “IL FILO BRASILIANO’.

Escolheu  o fio elétrico que os Pracinhas usaram para se comunicar nos campos de batalha e que,apos a vitoria, doaram aos municípios por onde passaram. Ela usou isso, como elo das lembranças que levantou para documentar aquele triste período. Essa doação serviu para ajudar na re-eletrificação do pós-guerra naquela terra sofrida.

Até hoje muitos  municípios por onde  passaram os Pracinhas festejam a ajuda que os brasileiros deram durante e depois da guerra. O fazem, inclusive, usando os sobreviventes... aproveitando aquele capital, a matéria prima que é a memória dos mais velhos, e levando as crianças para desfilar na rua cantando "mamãe eu quero", como agradecimento.

Diversamente se continuaria a praticar o "crime do silencio".


POR QUE NÃO USAR OS DONOS DAS MEMÓRIAS CONTIDAS NESSE RELATORIO?

 Tem razão Ana Claudia Pinho a respeito das preocupações do italiano Luigi Ferrajoli quando diz que todos deveriamos nos preocupar com os caminhos que o Direito a democracia, a igualdade e os bens fundamentais estão tomando em nível global.

Um comentário:

Pedro Paulo dos Santos - Arquiteto e Urbanista disse...

Muito interessante essa sugestão, e que, se acatada por quem de direito, poderia ser bem oportuna. Afinal, aparentemente, uma das principais causas do descaso com a preservação do nosso patrimônio cultural, histórico e artistico é justamente a falta de conhecimento. A despeito das determinações legais sobre a educação patrimonial, a realidade nos revela que as supostas ações até agora implementadas pelo poder público, não tem tido efeitos expressivos na percepção da relevância do engajamento da população em geral nos esforços para resguardar os elementos de nossa memória.