quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

INTERVENÇÕES NO CENTRO HISTÓRICO


É notória a Premência da Revisão da Legislação Urbanística e as Intervenções no Centro Histórico de Belém.

O processo de revisão da legislação urbanística de Belém está bastante atrasado. O Plano Diretor teria que ter sido revisado em 2018. Nessa empreitada todo o Centro Histórico e entorno terá que merecer um tratamento especial, considerando as especificidades e fragilidades da área.

Não é cabível a permanência do trânsito de veículos automotores como caminhões, trios elétricos, carretas e ônibus em plena área tombada do Centro Histórico. Alí terá que ser implementado um plano de mobilidade específico com restrições de peso, tamanho e horários de trânsito de veículos  automotores e outros, devidamente integrado ao sistema de mobilidade do resto da cidade. O mesmo diga-se relativamente as autorizações para instalação de estabelecimentos e de eventos que provocam agressões e danos físicos nas edificações (históricas ou não) e na infraestrutura urbana local, e no bem-estar da população local. Estacionamentos precisam ser levados em consideração.

 O poder público precisa agilizar, de forma bem cuidadosa e honesta o processo de revisão da legislação urbanística, e que preveja futuras revisões regulares e periódicas.  Muitas audiêncas públicas  deverão ser convocadas para o confronto com a cidadania.

 Ao longo dos séculos aconteceu em muitas cidades do mundo o fenômeno de esvaziamento e degradação de centros históricos. E Belém não escapou. E pior, ainda padece desse mal, devido a falta de ações adequadas da parte do poder público, ainda que a legislação atual as determine.                                                           

No mundo inteiro há vários exemplos de intervenções de revitalização e requalificação urbana em áreas que acumulam séculos de ocupação e usos variados; que  visaram a preservação do patrimônio cultural, histórico e artístico em ocupações e usos justos e sustentáveis. Alguns bem sucedidos, outros nem tanto.   

Também em Belém há décadas, sucessivos gestores públicos têm implementado intervenções urbanas pontuais no Centro Histórico de Belém; algumas bastante polêmicas em decisões de supressão ou acréscimos em edificações de notável valor cultural e histórico para preservação.                                                                             

Tanto a nível estadual como municipal foram inauguradas algumas necessárias obras, e outras ainda estão em andamento, em edificações que estavam muito degradadas; algumas em sério risco de perda parcial ou total.   A defesa da nossa memória histórica, porém, não pode ser esquecida.                                      

Belém teve seus próprios fatores que conduziram ao atual estado de degradação do Centro Histórico. E cabe aos gestores públicos encontrar alternativas viáveis e muito bem elaboradas de intervenções que envolvam todo o polígono do Centro Histórico de forma coordenada e integrada, que tornem possível um trabalho grandioso  (a ser executado em sucessivas etapas), cujo resultado seja o mais satisfatório possível para todos os segmentos sociais, e que concorram para o convívio social harmônico.                  

Para tanto, esse trabalho terá que ser realizado com muita seriedade, elaborado por uma equipe multidisciplinar de profissionais, além da fundamental e necessária  participação de legítimos representantes da sociedade civil (a legislação vigente prevê  essa participação), na definição de um programa de necessidades, que poderia orientar a realização de um concurso público para a escolha do melhor projeto.                                       

Qualquer trabalho dessa magnitude, com maiores possibilidades de sucesso, terá que prever intervenções bem coordenadas no tecido urbano, incluindo edificações (públicas e particulares), nos logradouros e na infraestrutura urbana (vias carroçáveis, calçadas, redes de fiações, postes, redes de esgoto e de águas servidas, e todo o mobiliário urbano), além do absoluto cuidado nas propostas de mudanças de formas de ocupações e usos dos espaços públicos e privados.   E para isso tudo, quatro anos não bastam.                                            

Há que prever um esforço conjunto (entre várias instituições públicas e privadas que instalam equipamentos em logradouros públicos, e que incidem na paisagem urbana), visando a racionalização da instalação de elementos em ambientes públicos, e que eliminem a poluição visual urbana.                        

Será primordial a identificação de práticas, costumes, atividades e eventos que sejam tradicionalmente peculiares (e até caracterizem) àquela área (como é o caso  dos muitos estabelecimentos comerciais da Cidade Velha, que atendem a demanda das populações ribeirinhas de Belém e municípios vizinhos), e que sejam de interesse para a preservação. 

 É necessário ressalvar que na gestão pública deve ser garantido o usufruto do espaço público para a conveniência e bem-estar da população em geral, e também a prevalência do interesse da coletividade sobre os interesses individuais ou corporativo. O mesmo diga-se para o caso das edificações de  propriedade privada, o poder público terá que recorrer a bem  elaboradas estratégias de uso da legislação vigente, uma vez que a responsabilidade primeira de intervenções nesses imóveis é de seus respectivos proprietários. Aqui, uma atenção especial deve ser garantida aos inúmeros casos de imóveis sob o cuidado de herdeiros, e aqueles em situação fundiária irregular.                                                   

 Nesse plano específico para o Centro Histórico também deverão estar previstas as ações de regulares e periódicas obras de manutenções preventivas e corretivas.  Um trabalho dessa envergadura, requererá o investimento de expressivo montante de recursos financeiros. O poder público terá que prospectar também as alternativas mais viáveis das fontes desses recursos. Há leis federais, estaduais e municipais de apoio às ações e obras no segmento de resgate, restauro e preservação do patrimônio cultural, histórico e artístico (material e imaterial). Ademais, várias empresas estatais, e conglomerados econômicos da iniciativa privada possuem programas de investimento em fomento cultural; além de entidades internacionais, que podem ser demandados.

Um plano plurianual é necessário.

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Pedro Paulo dos Santos: arquiteto e urbanista

Vice Presidente da CIVVIVA


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