sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Como defender a Cidade Velha?


A História é por si só a ciência da memória.  Como imaginar uma cidade histórica, antiga? Colorida? Impossivel. Com ruas asfaltadas? Nem em sonhos.  Difícil é hoje, portanto, falar de defesa de uma área tombada,  mantendo a nossa memória histórica, perfeitamente intacta: mas não precisa abusar, também. As teorias se embatem, hoje,  em práticas pouco ortodoxas que nos levam a descobrir no Brasil, “centros históricos” lindos, que pouco tem a ver com a verdadeira “memória histórica”. Alguns até, verdadeiros carnavais, outros, com suas ruas asfaltadas.

Quem viaja para o exterior, para cidades com historias bem mais antigas do que a nossa, e que, além de olhar vitrines, se preocupa  em olhar (e ver) os monumentos, prédios, praças, dificilmente encontrará cores vistosas. Os nossos imóveis em área tombada tem origem naquelas cidades, onde as cores são monótonas, nunca agressivas...e nós queremos (e devemos) dizer isso aos nossos filhos e netos. Mas devemos ignorar os prédios que estão perto de algo antigo e permitir cores fortes???

Muito  pode ser feito, sim, mas na Cidade Velha, era melhor não exagerar.  Não se afastar assim tanto da teoria e das leis que falam de “defesa do patrimônio histórico”. Vidros fumes, casas  de cores fortíssimas, muros que viram quadros, tudo  no entorno em área tombada... Isso poderia acontecer onde não provocasse um choque, não  so a vista, mas cultural, também.

Essa mania de criar cenários (coloridos) que  vemos se  desenvolver nos últimos anos, pouco tem a ver com a verdadeira história. Anos atrás esse perigo foi cantado em música e hoje estamos correndo o risco de ver isso concretizado a espera de um  turista que não existe...e os moradores na porta de casa esperando que a água saia da torneira de cor branca. 

Lendo a relação das prioridades para a seleção PAC CIDADES HISTÓRICAS uma preocupação enorme surgiu, assim sendo, uma  pergunta tem que ser feita: o que queremos fazer com as  áreas tombadas? Esquecer que ali tem gente? Sim, porque a preocupação é clara: os prédios, não os problemas das pessoas que ali habitam. Daí nasce uma outra pergunta: Vão salvar a memória ou embelezar  as casas, modernamente, usando vidro fumê? Salvar a memória ou dar a entender  que em 1900 as casas eram coloridas? Salvar a memória ou passar a ideia que a  Cidade Velha era cheia de bares e restaurantes? Salvar a memória de quem, afastando-se tanto da história?

Será que em arquitetura a palavra ‘revitalizar’ quer dizer o mesmo que salvaguardar ou preservar?  Em nenhuma das leis em vigor é usado esse  termo pois o legislador tinha bem claro em mente  que queria “salvar nossa memória histórica”. Mas isso não se viu em muito do que está escrito na relação entregue ao Ministério.

Será que está nascendo uma nova teoria? Então, repetimos a pergunta:  QUEREMOS FAZER O QUE COM A CIDADE VELHA?

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