sexta-feira, 13 de novembro de 2020

A ORLA “LIVRE" DA CIDADE VELHA

 

Desde quando começaram a usar as áreas de portos situados na orla da Siqueira Mendes, como locais noturnos, que reclamamos do que isso causa para o bairro.

Por um lado, a falta de estacionamento e a poluição sonora deveriam ser motivo de maiores atenções na área tombada, mas, por ocasião da "requalificação" das quatro praças dessa área tombada isso não foi levado em consideração, como, por outro lado, ignoraram a comunidade, contrariamente ao que prevêem as leis em vigor.

Tres coisas são interessantes salientar:

- QUE PARTE DO BAIRRO FOI TOMBADO EM 2012 PELO IPHAN ;

- QUE BOA PARTE DE SUA ORLA ERA USADA COMO PORTO;

- QUE O COMERCIO DAS PRIMEIRAS RUAS DE BELÉM FORNECEM MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS PARA  AS ATIVIDADES DOS RIBEIRINHOS.

De fato, andando pela Cidade Velha não vamos encontrar sapatarias, lojas de tecidos ou de óculos, mas quem vende: roçadeiras, maquinas de açaí, remos, motores de popa, material elétrico, de pesca, para construção (areia , tijolo, cimento e azulejos) e muito mais, além de oficinas para todo tipo de motores e instrumentos de trabalho elétricos.

Quando Belém foi fundada, não era de moda ir “para a praia”. Banho se tomava de cuia, dentro de uma tina ou na beira de um poço. Só os índios usavam os igarapés e os rios para se banharem . O pudor ainda estava de moda, lembrado e apoiado veementemente pelas igrejas, evitando assim que as praias fossem algo mais que portos de canoas, igarités e barcas a vela... Além do mais as casas da Cidade Velha eram construídas de costa para o rio, com seus trapiches.

Até o inicio de 1940 a orla de Belém ao longo do rio Guamá, partindo da praça do Arsenal era quase totalmente desabitada e ainda coberta por mata virgem.  A Tamandré era um lamaçal e a única rua que chegava até a beira do rio, era a atual Av. Alcindo Cacela, ainda feita de chão batido, onde se encontrava a companhia aérea alemã, Condor Lufthansa. Tem quem lembra que era costume as famílias levarem os filhos para assistirem, ao por do sol as aterrisagens dos hidroaviões.

Pouco a pouco, a partir da segunda Guerra mundial e dos acordos de Washington que estabeleceram o fornecimento de ipecacuanha, aniagem, babaçu, cera de carnaúba, cera de urucuri,  borracha manufaturada, café, cacau, castanha-do-pará, cristal de rocha, flores de piretro,  linters de algodão, timbó,  mamona mica, rutilo... para os Estados Unidos em troca, especialmente, do reequipamento das forças armadas com fornecimento de armas ao Brasil, aumentaram os portos em várias partes da orla.

Nessa época nasce o Canal da Estrada Nova, com uma área revestida de concreto, para as bandas do Guamá, que os americanos diziam ter feito para conter a malária que infestava Belém. A boca pequena em vez se falava que “aquela vala” era na verdade uma trincheira a ser usada pelos americanos, caso a guerra se prolongasse. Os americanos constroem a Rodovia Artur Bernardes unindo assim a recém construída Base de Val de Cães ao centro da cidade.

A CIDADE CRESCE. A área que vai da Praça da Sé até a atual sede da  UFPA  começou a ver aumentar o numero  de portos de todos os tipos e tamanhos, entremeados com alguma outra atividade mais antiga que podiam ser clubes de regata, fabrica de guaraná, serrarias, marcenarias, oficinas náuticas, e lojas de materiais que interessavam os ribeirinhos...além do bar da Condor.

Esse bar e os clubes nauticos eram os únicos pontos de recreação dos belemenses na orla de Belém, até que começaram a aterrar a área atrás do Palacete Pinho, do Porto do Sal até mais pra lá da Tamandaré e locais noturnos e motéis começaram a aparecer. Como muitos portos não trabalham a noite começaram a usar essas áreas como danceterias... e começou o cáos.

Esses locais noturnos sem estacionamento para seus clientes começaram a usar praças e calçadas de liós, como tal. Aparecem flanelinhas para endereçar os motoristas rumo a grama das praças, destruindo-as. A poluição sonora no entorno de igrejas tombadas, aumenta e  ninguém toma providências...também. O nível da educação desses clientes piorava...

Paralelamente é inaugurado o PORTAL DA AMAZONIA, fora da área tombada. Rápido o seu sucesso. A necessidade de áreas de lazer em Belém, ficou claro, mas, em vez de usar o resto da área em tal sentido, autorizaram um Atacadão na entrada do Portal. Foi embargado mas, próprio estes dias, foi suspenso pelo próprio Ministério Publico que tem como competência inclusive, defender  o meio ambiente...

Não satisfeitos com o cáos criado no bairro tombado, incluindo trios elétricos a torto e a  direito, um espirito de porco resolveu propor fazer um corredor de  bares que começava perto da Presidente Vargas, descia toda a Boulevard Castilho França, entrava pela Feira do Açaí, subia para a praça da Sé e acabava na praça do Carmo. Os clientes desses bares iam chegar a pé ou de carro? foi a primeira pergunta que fizemos. Iam continuar a infestar as calçadas de liós com seus veiculos? Iam usar skates ou patinete? E a poluição sonora ia ser permitida até nas 11 Janelas? Não tivemos resposta.

Sobrava ainda um bom pedaço de terra de marinha na área do Portal: quem sabe uma área de lazer com serviços para os ribeirinhos, incluindo uma marina para seus po-po-pós. Daí lemos no jornal que alugaram  a área da ex fábrica de aniagem CATA, na parte final do Portal da Amazonia para  construção de um...supermercado. 

Naquela área seria bem mais util algo mais para os moradores das ilhas do Municipio de Belém.   Médicos, dentistas, creches, documentos...esses serviços seriam bons também para os moradores da Cidade Velha, além de áreas de lazer, mas não pensaram nisso.



Continuam  de olho aberto na orla  "livre" de Belém... sem discutir com a comunidade.

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