Desde quando começaram a usar as áreas de portos situados na orla da Siqueira Mendes, como locais noturnos, que reclamamos do que isso causa para o bairro.
Por um lado, a falta de estacionamento e a poluição sonora deveriam ser motivo de maiores atenções na área tombada, mas, por ocasião da "requalificação" das quatro praças dessa área tombada isso não foi levado em consideração, como, por outro lado, ignoraram a comunidade, contrariamente ao que prevêem as leis em vigor.
Tres coisas são interessantes salientar:
- QUE PARTE DO BAIRRO FOI TOMBADO EM 2012 PELO IPHAN ;
- QUE BOA PARTE DE SUA ORLA ERA USADA COMO PORTO;
- QUE O COMERCIO DAS PRIMEIRAS RUAS DE BELÉM FORNECEM
MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS PARA AS ATIVIDADES
DOS RIBEIRINHOS.
De fato, andando pela Cidade Velha não vamos encontrar
sapatarias, lojas de tecidos ou de óculos, mas quem vende: roçadeiras, maquinas
de açaí, remos, motores de popa, material elétrico, de pesca, para construção
(areia , tijolo, cimento e azulejos) e muito mais, além de oficinas para todo
tipo de motores e instrumentos de trabalho elétricos.
Quando Belém foi fundada, não era de moda ir “para a praia”.
Banho se tomava de cuia, dentro de uma tina ou na beira de um poço. Só os índios
usavam os igarapés e os rios para se banharem . O pudor ainda estava de moda,
lembrado e apoiado veementemente pelas igrejas, evitando assim que as praias
fossem algo mais que portos de canoas, igarités e barcas a vela... Além do mais as
casas da Cidade Velha eram construídas de costa para o rio, com seus trapiches.
Até o inicio de 1940 a orla de Belém ao longo do rio Guamá, partindo da praça do Arsenal era quase totalmente desabitada e ainda coberta
por mata virgem. A Tamandré era um lamaçal e a única rua que chegava até a beira do rio, era a atual
Av. Alcindo Cacela, ainda feita de chão batido, onde se encontrava a companhia
aérea alemã, Condor Lufthansa. Tem quem lembra que era costume as famílias levarem
os filhos para assistirem, ao por do sol as aterrisagens dos hidroaviões.
Pouco a pouco, a partir da segunda Guerra mundial e dos
acordos de Washington que estabeleceram o fornecimento de ipecacuanha, aniagem, babaçu,
cera de carnaúba, cera de urucuri, borracha manufaturada, café, cacau,
castanha-do-pará, cristal de rocha, flores de piretro, linters de algodão, timbó, mamona mica, rutilo... para os Estados Unidos em
troca, especialmente, do reequipamento das forças armadas com fornecimento de armas ao Brasil, aumentaram
os portos em várias partes da orla.
Nessa época nasce o Canal da Estrada Nova, com uma área
revestida de concreto, para as bandas do Guamá, que os americanos diziam ter feito para conter a malária que infestava Belém. A boca pequena em vez se falava que “aquela
vala” era na verdade uma trincheira a ser usada pelos americanos, caso a guerra
se prolongasse. Os americanos constroem a Rodovia Artur Bernardes unindo assim a recém construída
Base de Val de Cães ao centro da cidade.
A CIDADE CRESCE. A área que vai da Praça da Sé até a atual
sede da UFPA começou a ver aumentar o numero de portos de todos os tipos e tamanhos,
entremeados com alguma outra atividade mais antiga que podiam ser clubes de
regata, fabrica de guaraná, serrarias, marcenarias, oficinas náuticas, e lojas
de materiais que interessavam os ribeirinhos...além do bar da Condor.
Esse bar e os clubes nauticos eram os únicos pontos de
recreação dos belemenses na orla de Belém, até que começaram a aterrar a área atrás
do Palacete Pinho, do Porto do Sal até mais pra lá da Tamandaré e locais noturnos e motéis começaram
a aparecer. Como muitos portos não trabalham a noite começaram a usar essas
áreas como danceterias... e começou o cáos.
Esses locais noturnos sem estacionamento para seus clientes
começaram a usar praças e calçadas de liós, como tal. Aparecem flanelinhas para endereçar os motoristas rumo a grama das praças,
destruindo-as. A poluição sonora no entorno de igrejas tombadas, aumenta e ninguém toma providências...também. O nível da
educação desses clientes piorava...
Paralelamente é inaugurado o PORTAL DA AMAZONIA, fora da
área tombada. Rápido o seu sucesso. A necessidade de áreas de lazer em Belém, ficou
claro, mas, em vez de usar o resto da área em tal sentido, autorizaram um
Atacadão na entrada do Portal. Foi embargado mas, próprio estes dias, foi suspenso pelo próprio Ministério
Publico que tem como competência inclusive, defender o meio ambiente...
Não satisfeitos com o cáos criado no bairro tombado, incluindo
trios elétricos a torto e a direito, um espirito de porco resolveu propor fazer
um corredor de bares que começava perto
da Presidente Vargas, descia toda a Boulevard Castilho França, entrava pela Feira
do Açaí, subia para a praça da Sé e acabava na praça do Carmo. Os clientes
desses bares iam chegar a pé ou de carro? foi a primeira pergunta que fizemos.
Iam continuar a infestar as calçadas de liós com seus veiculos? Iam usar skates
ou patinete? E a poluição sonora ia ser permitida até nas 11 Janelas? Não tivemos resposta.
Sobrava ainda um bom pedaço de terra de marinha na área do Portal: quem sabe uma área de lazer com serviços para os ribeirinhos, incluindo uma marina para seus po-po-pós. Daí lemos no jornal que alugaram a área da ex fábrica de aniagem CATA, na parte final do Portal da Amazonia para construção de um...supermercado.
Naquela área seria bem mais util algo mais para os moradores das ilhas do Municipio de Belém. Médicos, dentistas, creches, documentos...esses
serviços seriam bons também para os moradores da Cidade Velha, além de áreas de lazer, mas não pensaram nisso.
Continuam de olho aberto na orla "livre"
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