A proposito de perda do nosso patrimônio histórico: algo ficou registrado.
Em 2008 a Associação Cidade Velha Cidade Viva organizou juntamente com o jornalista Osvaldo Coimbra, uma Oficina Escola de Escritores que resultou na publicação de um livro sobre o primeiro bairro de Belém. (http://civviva-cidadevelha-cidadeviva.blogspot.com.br/2008/12/o-livro-est-saindo.html).
Em tal livro temos um artigo escrito por Walter Luiz Jardim Rodrigues, "OS ENCANTOS DO SOBRADO SOBERANO", onde ele nos fala da antiga sede da fábrica de Guaraná Soberano, toda de azulejos, situada na Cidade Velha.
”
Num determinado ponto de seu conto Walter escreve "… O rio Guamá aos fundos a exalar lembranças de antepassados aventureiros enquanto um crepuscular, resignado vento lasso lambia o calçamento em calcário de lioz da estreita e aportuguesada Rua Norte à Freguesia da Sé. As luminárias aguardavam mais uma arejada noite a fim de exercerem suas funções. E, de repente, a imagem daquele soberano sobrado datado do final do século XVIII. Suas medidas: 2.200m², fixado em um lote regular de aproximadamente 14 m de largura e imensa profundidade a fazer limite com o rio Guamá, uma imponente construção que se aproveita de cada milímetro do terreno, alinhando-se, impecavelmente, à via pública.
Propriedade primária de Engenheiro Olympio Leite Chermont, filho de Antônio Lacerda, o Barão e Visconde de Arary, o prédio é composto de três etapas distintas: a parte frontal, com fachada à Siqueira Mendes; a parte posterior, com fachada ao rio Guamá e a ala central, responsável pela união das duas citadas partes. A fachada principal desfila pomposa em um neoclassicismo que, apesar de tardio em Belém, fora bastante expressivo devido aos exorbitantes lucros obtidos pela borracha no mercado internacional. Inúmeros retoques foram feitos nessa fachada sem que esta perdesse sua configuração original, embora em maior escala tenhamos hoje o ecletismo. Já a fachada posterior, nos inspira sonhos de mil e uma noites com suas linhas rígidas e portas e janelas com vãos em arcos abatidos lanceolados. Observável influência mouristica."
Ele continua descrevendo em detalhes, essa que era uma das tantas fabricas de guaraná que existiam em Belém no inicio do século passado. Dela tinhamos esta visão, e no medalhão liamos
“FABRICA SOBERANA HILARIO FERREIRA & CIA., LTDA”.
"No ano de 2007, Hilário Ferreira fora homenageado pela Assembléia Legislativa do Estado com o título “Cidadão do Pará Pós-mortem” em reconhecimento ao importante papel que exerceu a indústria local." Conclui, Walter o seu artigo.
Essa a visão geral da fábrica em 2008. Podemos notar, entre a primeira e a ultima porta duas águias de ferro, são as luminárias que enfeitavam a frente da fábrica e que desapareceram este ano.
Sobraram apenas os buracos de apoio a tal enfeite.
Recentemente notamos a falta de todas as vidraças das janelas do andar superior.
Enfim, pouco a pouco vemos desaparecer, da fachada do prédio, suas partes mais importantes.
Até quando os azulejos serão respeitados?
Não existe nenhuma placa indicando trabalhos em ato.
Tal prédio não resulta tombado individualmente, mas é tombado em ambito municipal e federal. No caso do municipio pela categoria e de Preservação arquitetonica integral. O tombamento do Centro Historico por área inclui os bens que o integram, mas mesmo assim não vemos tomarem providencias.
Historicamente falando, "...a importância dessa indústria para o Estado, tanto no aspecto social, econômico, cultural. é inquestionável."
VER TANTO DESLEIXE OU DESINTERESSE PELA SALVAGUARDA DO NOSSO PATRIMÔNIO HISTÓRICO DEIXA TODOS INSATISFEITOS COM ESSE TIPO DE GESTÃO.
PS: Caso estejam consertando a fachada, não é prevista uma placa informativa da autorização dos orgãos competentes?
6 comentários:
Oi Dulce, sei que é lamentável, porém o fato de postares aqui e denunciares ao MP geralmente resulta em alguma ação do poder público. Tomara que isso ocorra desta vez. A agressão ao patrimônio começa aos poucos, para concluir com a total destruição do imóvel.
Tupinamba, em outubro, escrevi ao MP...e nada vi até agora. So a datilogafa me recebe, la...
É uma tristeza ver a falência dos nossos órgãos de preservação e a idiotice do nosso empresariado, que não enxerga o quanto o patrimônio preservado pode trazer de benefícios e até de lucratividade para o seu negócio. Talvez seja o caso de mobilizarmos esforços junto á esse setor,do Poder público eu já desisti há muito tempo!
Fora a urgente tomada de decisões para que o prédio do Guaraná Soberano não seja descaracterizado ou até mesmo deixado ao abandono até sua destruição total, temos que lembrar o descaso com a Capela Pombo perto do Archivo Público, o Palacete Pinho que foi todo restaurando e está ficando abandonado de novo, o Chalet de Ferro Belga que era do Clube Monte Líbano e foi desmontado e transferido para a UFPA e hoje está abandonado, o Palacete José Júlio de Andrade que alguns chamam de Bibi Costa (Se não me engano é o sobrenome), na esquina da Joaquim Nabuco com São Jerônimo (hoje Gov.José Malcher. Único com duas Torres em Belém, o Palacete Faciola, na Av Nazaré quase para cair, o Solar da Beira no Ver-o-Peso e o Mercado de São Brás também abandonados, estes de suma importância para a preservação de nosso patrimônio Hitorivo e artístico. Não esquecendo dos Palácios Antonio Lemos e Lauro Sodré que devam ser conservados. Como tantos outros de Belém que não estarei aqui , prédios, igrejas e praças. Espero que algum dia coloquem de volta o Busto do Juscelino Kubitschek no início da Almirante Barroso que foi "atropelado" e nunca mais foi restaurado, uma coisa tão pequena para o homem que fez a Belém-Brasília que integrou o Pará ao centro-oeste, sudeste e sul do pais e em Belém não tem uma homenagem à ele, que tristeza, que falta de gratidão, que absurdo.
Meu nome do comentário acima é Paulo Sérgio Paiva Rêgo. Não sabia como colocar.
Esqueci do Palacete Bolonha, é com certeza de vários outros.
Pelo menos alguns poucos ainda são conservados, que continuem assim.
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