A Cidade Velha Crucificada
(Ronaldo Franco – Escritor)
Quantas cidades na Cidade Velha¿
Quantas florestas de telhados
Excesso de telhas para cobrir ternura¿
Que calvário
Estreitou as ruas do sol?
As rotulas das janelas
ensanguentadas
Abriam-se
Ao fedor do mênstruo da espera
Mas o que fedia
Era o dia morto de tédio
Em que (a) Deus
As mães preparam os filhos
Os pais cruzaram os braços¿
Semanas santas
Sossegavam feridos encontros
Rádios gritavam
Três mil horas de agonia
Cristos mortos
(Saudades vivas)
Eram escoltados
Por tristeza mortal
Sobre nossas cabeças
Qual século sacrificado¿
O tempo subtraído
Nos sapatos de água
Olhares se conjugam nos pingos
Numa invenção
- molhada –
Nem sempre escutado
O galo e sua ópera encharcada
Lava os homens de Madalena
Nos quintais de pedra
Onde manos enterram o catecismo
E manas descobrem desejos
Quantas chuvas
Íntimas
No bordel das conversas¿
Quantos sorrisos sonsos
Sobre a penteadeira
Da boca vencendo a cor¿
Quantas gavetas
Entulhavam ausências
E traições de alfazema¿
Quantos azulejos sujos
Com sangue de irmãos
Quantos azulejos
Lavados/lavrados
Com mãos estrangeiras¿
Quantas coisas
Guardavam potes de lágrimas¿
Quantos potes
Secaram na sede dos anjos¿
Quantas vidas
Quebraram-se como potes¿
E Cristo
Deita-se
Na rede sem pátria mãe
Na rede sem pátria filha
Na rede mortalha
A vertigem do passado
- balança -
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