quarta-feira, 14 de novembro de 2018

O CARNAVAL E A FUMBEL


Nos ultimos oito anos, vimos se modificar completamente o carnaval paraense, ou seja aquele em que blocos de mascarados eram acompanhados por uma bandinha tocando musica carnavalesca. Em 2006 ainda viamos o Eloy Iglesias e o Kaveira, principalmente,  fazer isso na Cidade Velha.  Eles  chegavam na Praça do Carmo ou da Sé, esperavam os foliões e depois saiam pelas ruas do bairro alegrando a todos.
O carnaval ja começava a se modificar daquele antigo   quando entrou  em vigor a  Lei de criação da Fumbel, de  N° 7455 DE 17 DE JULHO DE 1989 a qual estabelecia que devia I – planejar, coordenar, executar, acompanhar e avaliar as atividades culturais e artísticas no Município de Belém...
Mais tarde veio a Lei 7.709 de 18 de maio de 1994, que  Dispõe sobre a preservação e proteção do Patrimonio Historico, Artistico, Ambiental e Cultural do Municipio de Belém e no seu Art. 2º estabelece que: Compete À Fumbel a implementação da politica de proteção e valorização do Patrimonio Historico Cultural e, no que couber, o disposto nesta Lei.
Em 2007 fundamos a Civviva e começamos a pretender mais respeito pela área tombada, pois o lixo ficava dias e dias pelas ruas, após os fins de semana carnavalescos. Outro problema era o fato dos foliões depois de dois copos de cerveja, usarem, mangueiras, muros e portas para fazer suas necessidades. Lembramos que eram as cervejarias que financiavam esse carnaval.

Em 2008 a anarquia era institucionalizada e aqui temos uma descrição do que acontecia e do que pedimos: https://civviva-cidadevelha-cidadeviva.blogspot.com/2008/01/crnica-de-um-carnaval-na-cidade-velha.html.
Pouco a pouco fomos conseguindo alguns êxitos e banheiros químicos começaram a chegar mas... os foliões não chegavam, em vez, até eles. Mangueiras, portas e muros continuaram a serem a meta dos bebuns.

Em 2012 a quantidade de gente tinha aumentado e os ambulantes mais ainda. Uma reunião foi feita com a Secretaria de Segurança do Estadopara discutir, inclusive, a 'concentraçao’ de blocos nas praças tombadas. No dia 14 de fevereiro de 2012, numa terça-feira publicamos  o resultado de MAIS UM CARNAVAL...
Em 2014, com um novo governo lemos uma carta da Fumbel com a qual declarava que " o evento" é de interesse para consolidação da expressão cultural do Município de Belém", e nominava cinco blocos para usarem a Praça do Carmo por uma média de 6 horas cada um. Para nós aquilo não era mais uma 'concentração', mas como escrito, um 'evento' o que é bem diferente, inclusive do que eles pediram. Aqui a nossa opinião  
https://laboratoriodemocraciaurbana.blogspot.com/2014/02/lembretes-para-administracao-publica.html.

A partir dai a situação piorou, o numero de trios elétricos, acompanhando pessoas com abadas, aumentou na Praça do Carmo, aquela escolhida para a 'concentração', e eram  todos devidamente autorizados pela FUMBEL. A poluição sonora desandou.
Em cada canto da praça do Carmo um carro chegava e abria seu bau e a musica axé e outros ritmos, que nem fazem parte da nossa memoria carnavalesca, tomavam conta do pedaço. A isso  se uniu a bateria de uma escola de samba, e assim um atrás do outro os trios elétricos deram inicio a poluição sonora em frente a igreja tombada do Carmo.
Agora não eram mais as cervejarias a financiar esse carnaval, mas a própria Fumbel, que em vez tinha como atribuição: III – Programar, executar e avaliar os serviços e atividades de guarda, conservação, manutenção e restauração do acervo museológico do Município e operacionalização pedagógica de oficinas de arte... entre outras coisas.
Os anos passavam, a poluição sonora aumentava e as reclamações dos moradores da área tombada, também. Algumas tentativas de melhorar esse carnaval foram feitas sem discutir com os moradores ou seus representantes. Os proprietários dos blocos, nem todos da Cidade Velha, formaram uma Liga e a Fumbel esqueceu totalmente os representantes dos moradores... e a Secretaria de Segurança, também começou a ignora-los (os residenters na area).
Nos últimos dois anos os absurdos aumentaram ainda mais naquelas ruas estreitas, Os moradores que podiam, fugiam  nos fins de semana para evitar o volume dos trios elétricos e a invasão  de pessoas que não tinham alguma preocupação com o Patrimonio Historico e que continuavam a fazer suas necessidades nos muros e portas das casas e igrejas.
Este ano, dia 12 de novembro recebemos um convite para uma reunião no dia 13 ...


 Aqui o vice presidente da Civviva, arquiteto Pedro Paulo Santos, nos conta, em poucas palavras como foi.
"A reunião foi convocada pela FUMBEL, e teve a presença de vários órgãos municipais, do IPHAN, dos representantes da Liga dos Blocos da Cidade Velha, de outros blocos de vários bairros de Belém, da CIVVIVA, e de outras entidades da sociedade civil. Começou cerca de 19h15 e terminou cerca de 21h10. A CIVVIVA foi representada pelo seu vice-presidente, Pedro Paulo dos Santos, e pela sra. Jacira Tavares, Secretaria-Tesoureira.

O presidente da FUMBEL, sr. Fábio Atanásio de Morais, começou sua fala esclarecendo que a reunião foi convocada para tratar exclusivamente do pré-carnaval no município de Belém, citando a Lei Municipal nº 9.306, de 02 de dezembro de 2017, uma vez que “reconhece como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Município de Belém, o Pré-Carnaval, e dá outras providências.” E assim, não seria apenas sobre os eventos no bairro Cidade Velha.  

Ao ser chamado, eu. Pedro Paulo apresentei-me, e expliquei sobre a atuação da associação. Em seguida, abordei três assuntos correlatos: 
(1) o acesso de moradores e de veículos de emergência; 
(2) a necessidade de que em todas as atividades do pré-carnaval sejam obedecidas as leis federais, estaduais e municipais pertinentes à salvaguarda do patrimônio cultural material; 
(3) considerando todas as implicações danosas resultantes de atividades que atraiam grande número de pessoas ao Centro Histórico, propuss que todo o movimento do pré-carnaval fosse transferido para a parte não tombada da Cidade Velha (av. Almirante Tamandaré).

Após minha exposição  o sr. Fábio, presidente da FUMBEL, informou da existência do Comitê de Gestão Integrada, composto por representantes de vários órgãos da Prefeitura Municipal de Belém, a quem cabe providenciar toda a logística relativa ao evento, inclusive o tema do acesso ao local do evento, de moradores e de veículos de emergência, durante os horários do pré-carnaval. O mesmo comitê também estaria responsável pela observância do cumprimento da legislação mencionada por mim. Quanto à proposta para mudança do local para a parte não tombada do Centro Histórico, não houve acolhida favorável.   

Vários outros participantes representantes da sociedade civil se manifestaram, pontuando sobre a poluiçao sonora; quem propos  fazer o pré carnaval em todos os bairro; quem  falou  dos decibéis;  das necessidades das pessoas idosas e muitas outras reclamações e sempre com uma intervenção esclarecedora do presidente da FUMBEL, sr. Fábio.

Houve a participação também de várias pessoas representantes de blocos de carnaval dos bairros Guamá, Maracangalha, Telégrafo, e Terra Firme, mas no convite ja estava claro que o argumento era o pre carnaval... na Cidade Velha, em vez;  

Ao encerrar a reunião, o sr. Fábio, anunciou uma próxima reunião a ser realizada em local da Cidade Velha, em data a ser anunciada brevemente."

A estas alturas, que ja ficou claro que vai ser como nos outros anos e que o patrimonio vai sofrer a mesma violencia, para que serve outra reunião? Com quem a Fumbel trabalhou para fazer esse programa "atendendo os interesses da cidade"? Cidade de Belém ou qual? Por que do Comite Integrado,  não fazem parte as Associações de moradores? Com quem se confrontaram para "descobrir" o que acontece realmente e assim poder debelar o problema? Tem alguem nesses Conselhos que vive na parte tombada da Cidade Velha para informar o que realmente se passa?

A fiscalização relativa a poluição sonora,  cujos decibeis resultam muito acima do que a lei nacional permite, não resultou nunca ser uma preocupação e isso é um dano enorme ao nosso patrimonio.
                

O nosso carnaval, nada tem a ver com essa manifestação que acontece nos últimos anos na Cidade Velha. Chamar o carnaval de "pre", o que significa, se não tem o "pos"? Isso, além de não representar a nossa  identidade,   ficaria muito melhor em outro lugar, assim a Fumbel não daria razões para ser acusada de ajudar  a destruir o que restou do  nosso patrimônio histórico.


Nenhum comentário: