Contei estes
dias, como nasceu a ideia de fazer um Círio em Bolonha, cidade italiana
governada por comunistas, desde o fim da
Segunda Guerra Mundial. (https://laboratoriodemocraciaurbana.blogspot.com/2025/10/21-anos-do-cirio-em-bolonha.html)
Uma manhã em
2004, fui convidada pela consul Honorária do Brasil em Bolonha, a participar de
um evento sobre o Brasil, num município situado no entorno de Bolonha. Aceitei,
e após o evento, durante o almoço, sentou-se ao meu lado um senhor, que depois descobri ser um Senador do partido
de governo, Democracia Cristã.
Conversa
vai, conversa vem, ele me pergunta de
onde eu era: de Belém do Pará,
respondi e ele me olhou e disse: ah! que coincidência pois estou mandando um
container com ajuda para as obras da igreja de Nazaré...
Desta vez
fui eu quem se admirou pois, depois da minha aposentadoria em dezembro de 2003,
há meses estava a procura de um modo
de mandar minhas coisas para Belém. Aproveitei imediatamente para perguntar se
tinha espaço no seu container para colocar algo da minha mudança lá dentro...
Fui tão
direta ao assunto que ele riu e disse: a senhora pode ir ver o container,
até agora mesmo... e chamou seu motorista entregando-lhe as chaves. Não
consegui nem mais mastigar o almoço, de tanta pressa que tinha em ir olhar o
interno do container...mas esperei servirem o café para depois ir ver o que me
interessava.
O container era enorme e tinha dentro um
automóvel, algumas caixas e nas paredes tudo o ocorrente para uma oficina
mecânica. No baú do carro, várias impressoras de computer. Ia dar coisa a beça em cima desse
carro.
Voltei,
alegre da vida e perguntei ao Senador se podia fazer um patamar em cima do
veículo. Ele sorriu e disse: sim, está ao seu dispor.
Não podem
imaginar a minha alegria. Telefonei imediatamente a uma brasileira cujo marido
sabia fazer tudo e o contratei para fazer o que precisava para concluir essa
minha mudança para o Brasil.
O patamar
foi feito e ali colocamos os moveis da sala, da cozinha, minhas cadeiras
Thonet, austriacas, e um daqueles baús antigos, cheios de coisas para a casa,
como quadros, lençoes , cortinas, enfim, deu coisa a beça e ainda sobrou lugar.
Feito isso, fechei
a casa onde morava de aluguel, entreguei as chaves e voltei para Belém, toda
feliz e satisfeita para esperar a chegada do navio que traria minhas coisas...
o que durou uns três meses.
Tudo o que
coloquei dentro, chegou na santa paz, mas as coisas que iam para a igreja, não.
As impressoras, desapareceram todas, assim como algumas ferramentas que estavam
na parede do container. Também não me devolveram o material usado para fazer o
patamar.
Eu tinha
feito uma relação de tudo que estava trazendo, desde guarda-chuvas,
combinações, talheres, cristais, tudo, enfim, e fui no consulado brasileiro de
Milão para que carimbassem... Avisei o pessoal do Senador que era bom fazerem o
mesmo, mas não fizeram. Como provar que
faltava algo, então?
Os anos se passaram e um dia, contando para alguém como consegui trazer minhas coisas para cá, falei que tinha feito um Círio e mostrei as fotos. Nessa ocasião vejo a foto do Senador com a Consul seguindo a procissão.
2004 Cirio procissão
Somente nesse momento entendi que a N. Sra. de Nazaré estava por trás dessa coincidência. Ele, o Senador, foi o intermediário do seu agradecimento e eu nem sabia.
Ao anoitecer do dia do Círio em Bolonha, o Conde Vincenzo Amedeo Lucchese Salati, presidente da Confraternita di San Rocco me homenageou com uma Indulgencia por ter apresentado a Nazica aos bolonheses.
Desde que descobri esse agradecimento da padroeira do Pará, todas as vezes que vou a Bolonha, lhe levo um manto novo, para a felicidade do Monsignor Stefano Ottani, vicario generale della diocesi di Bologna e parroco della Basilica que sempre me ajudou a difundir a cultura paraense.